fevereiro 26, 2006

morvern callar...

Morvern Callar......Morvern Callar....

Uma realidade a dois passos, todos a desejamos. Um vento trespassante que nos guiasse perante as trevas do inconsciente, a procura hedonista de um sentido latejante de pulsões. Vento. Sinto o frio. A disparidade dos dias. A vicissitude da incompreensão. Pleno sabor a dualidade. Contestar?

Surpreendente obra cinematográfica dirigida por Lynne Ramsay. Uma Samantha Morton soberba. Não se esperava mais deste "objecto" de estudo. Poucas pessoas saberiam interpretar Morvern e muitos menos compreende-la...
O meu gosto incessantemente europeu estava mais uma vez certo, saí do cinema satisfeita =) e viva o torcicolo =P


A sua busca sempre se perpetuou em cada minuto. Tal como a nossa. Aquela brisa que nos invade e desmancha em partículas intemporais, gritando num vácuo absoluto de certezas. Quando não temos o que negar e o que apreender vinculamo-nos num deserto de afectos inesperados. Torcendo a raiz da memória e procurando a solidez da penumbra evasiva. Por vezes libertamo-nos e receamos a mera entrega no jardim ilusório perpendicular à doentia insanidade do acreditar. E aí perdemo-nos na fenda criativa do ser. E do prazer.

Ela procura conhecer o seu prazer e saber como lidar com a demonstração do seu afecto abrindo ao prazer do outro. Pleno ensaio sobre o apocalíptico meio de nos dissociarmos do real, esta viagem. Em que no final nos perguntamos se o sentido que todos daríamos se concretizou. A luz encarnada, o intermitente som da árvore de natal, o horror da estação em si, a solidão repentina, a necessidade de respirar, de se encontrar...o encontro com o que ele lhe deixara e a sua reacção. Será possível continuar sem nos separarmos? Ela escolheu o seu meio. Incorporou o que não era seu enraizando o seu espírito, possuindo o outro eu...saíu, deixando a porta aberta ao seu desejo. Tentou o reencontrar.

Penso que encontrei um defeito neste emaranhado de confusões que se tornou a minha mente. Ou melhor...algo que me incomoda persistentemente. Aquela vontade de absoluto sem margem para dúvidas, a demência pela perfeição e o ódio avassalador quando nada disso se realiza. Realizar-se-á algum dia eternamente? Não. Identificarei o retrocesso da minha ansiada perspectiva? Talvez sim. Será no dia em que morrer? Talvez não. Raiva, descontrole interior feroz em que cada minuto existencial parece ser o último que me lançará no sublime precipício psicológico...Em que isto poderá se equiparar ao drama de Morvern?

Um dia ela chega a casa e encontra o seu namorado morto que lhe deixara um bilhete, uma cassete com musicas escolhidas por ele, algum dinheiro e o seu ultimo livro. Ela muda o nome do autor para o seu nome, parte para Espanha levando consigo uma amiga, consegue a publicação do "seu" livro e regressa a casa, cortando aos pedaços o corpo do namorado, depois de o ter deixado em putrefacção. Caminha para uma mata e enterra-o. Ouvindo a cassete deixada por ele.

E vai.se ouvindo cada minuto das melodias intrinsecamente seleccionadas e como ela também nós partimos de viagem. À partida são auto.contestações à mente distorcida, uma utopia dissimuladora, aquele basear. Aquela identificação. Porém existe mesmo identificação? E a morte? Torna-se inevitável em que contexto? O do absurdo? O medo contraditório, a dualidade dilacerante, o "mundo" que passa a ser nosso em que so entra quem nos queremos. Até quando? Até quando aquela "vergonha" por termos adoptado uma maneira de estar na vida que em nada se assemelha ao mais comum dos mortais? Fugir a realidade é impossível ponto. Ponto final. Fugir a desavença narcisista entre o nosso "eu" e o exterior, a oposição intriguista entre o nosso "querer" e o "ser" do outro, o não saber o que será daqui a....alguns minutos. Algumas horas. Quem sabe alguns milénios. Metodicamente nada será mais simples que beber uns whiskeys cola regados ao nosso desejo. E preponderar a evasão sensorial, acrescida do lever sabor ao nada.

Grande filme, que recomendo vivamente, tentarei procurar este dvd, acho que ficaria muito bem na prateleira fazendo.me lembrar que a qualquer momento é possível. Sim possível colocá.lo no leitor e vê-lo =) existem obras que valem a pena o "sacrificio" e esta é uma delas. Agosto 2003, "A viagem de Morvern Callar"
sites com criticas e etc: http://www.warprecords.com/morverncallar/, http://www.imdb.com/title/tt0300214/trailers, http://www.cinema2000.pt/ficha.php3?id=3648, http://www.zetafilmes.com.br/criticas/morverncallar.asp?pag=morverncallar

I am thinking it's a sign that the freckles in our eyes are mirror images and when we kiss they're perfectly aligned
And i have to speculate that God himself did make us into corresponding shapes like puzzle pieces from the clay
And true, it may seem like a stretch, but its thoughts like this that catch my troubled head when you're away when I am missing you to death
When you are out there on the road for several weeks of shows and when you scan the radio, i hope this song will guide you home...

They will see us waving from such great heights, 'come down now,'... they'll say...
But everything looks perfect from far away, 'come down now,'... but we'll stay...

I tried my best to leave this all on your machine but the persistent beat it sounded thin upon listening
And that frankly will not fly.....
You will hear the shrillest highs and lowest lows with the windows down when this is guiding you home

They will see us waving from such great heights, 'come down now,'... they'll say...
But everything looks perfect from far away, 'come down now,' ...but we'll stay...


The Postal Service "Such a great heights"
Brilhante banda e descomunal musica, associada à descoberta, à libertação, e sempre inserida na recordação deste filme.

2 comentários:

Anónimo disse...

Cativante descrição de um curioso filme.
Aprés tout...pequenas ilusões quotidianas.
beijos V

luciamonizfasblog disse...

Descrição fantastica do filme, dei-me vondade de ir ver.