abril 22, 2010

ghosts .

É um aroma meio intenso que por vezes me assola, penetra dentro de mim, pelos meus poros, como se sempre me tivesse pertencido. É como se cheirasse a minha camisa, a minha saia, ou mesmo as minhas meias, e sentisse esse perfume, forte. É como se na abertura do meu soutien ele também se repercutisse e tivesse impregnado. Apenas na abertura porque ele desconhecia o fecho. Aroma doce.

i'm talking to fools .

E nesse encanto hostil encontrei o bloqueio parado, o fosso cismado, na minha mais etérea vontade. Vendo o desejo oscilar, precário, na impossibilidade de um desaire genético. De uma infeliz coincidência, numa mal-formação andrógena. Renegada, perdida, esquecida. Deixada sempre para o dia seguinte. Aquele que nunca veio. Baptizando fantasmas, destruindo fugas no subconsciente. Na gruta da minha saciedade.

talking to walls .

Busca. Procura. Saudosismos, virtuosismos. Paciências, tolerâncias, aquelas que começam a esgotar-se. Saturações. E a visão, o sentido, como se fosse uma ilha completamente isolada no oceano, onde eu distendesse as minhas pernas e elevasse estrategicamente o meu pé direito. Assente num sapato de salto alto preto, envernizado.

story died . truth inside .

‘aos olhos de Sabina, tudo era permitido. Jovem incauta, jovem indolente, a slut without being a whore, what’s the difference?, quelque chose, s’il vous plait. Angariar partículas infinitesimais. Qual a distinção? Wharever. Espelho colocado de frente para a cama, desfeita, embrulhada, amassada, whatever. E a consumação do acto quebrando em frente a esse tal espelho, estilhaçando o veneno, estancando o sangue da perda. Da liberdade, do ser, do consumo, integração humana. Optimização do ventre animal. Ela. Com o seu chapéu preto, bebendo whiskey. Sem cola, com gelo. Esticando as pernas, rasgando as suas meias pretas até ao joelho, que estalavam de cada vez que ela se contorcia na corda da sua submissão. Que perdiam a ligação de cada vez que ela se deixava cair. Cair. cair.’

story died . pain inside .

E assim se enrolava ela nos mantos do seu leito, sentindo o cheiro, o cheiro, cada vez mais doce e forte. Todo aquele aroma que a ofegantemente excitava. Já não mais Sabina, eu. Sabina um dia serei eu, quando tudo se colmatar. No todo que ainda não quis ocupar. Estupidamente, fulgurantemente.
it's over .

Completamente enlameada pela soberba da sua inquietude, chamou, acalmou. Oh vil natureza humana, a dita da humanidade que de nada tem que mereça ter esse nome. Nojo, vergonha, nacional, internacional. Necessidade de dissecar, torturar, esventrar o ‘outro’ para própria ocupação existencial. Porque o vazio que habita na maior parte dos seres humanos tende a clamar por uma ocupação em tempo recorde e conduz à extorsão virtual, social e pessoal do outro.

Quando a mesquinhez humana se faz ouvir, derramando a sua sórdida lava viscosa por entre outras ‘peças’ humanas, outros jogadores no mesmo campo, estes não podem mais que eclodir os seus fantasmas, vomitar, os seus fantasmas, evaporar os seus....fantasmas. Dissertando ao acaso, num vácuo sugado para dentro desta bola gigante que ainda continua a rodar.


i’m talking to ghosts .



P.S: Parece que abandonei este espaço mas não. Até me sinto mal de nunca mais ter escrito nada. Não abandonei, longe disso. E agora prometo, que irá mudar =)