maio 27, 2007

Placebo

Foi com Special K e 20 Years que conheci a voz entranhável de Brian Molko. Essa voz que sempre que ouvia, saía a ideia da minha boca ‘bem qualquer musica deste senhor eu gosto’. Rondava o ano de 2000. Até me lembro das palavras em estilo de convite do meu caro amigo Capelão:’Smashing não é muito a minha onda...mas Placebo gosto bastante...assim do tipo de bandas que tem mais que ver contigo...’. Estavámos de frente para um anuncio qualquer de um festival qualquer que eles iriam actuar. Ele continuou:”Nem me importava de os ouvir tocar’.Em 1996, Brian Molko, Stefan Olsdal e Steve Hewitt lançam o seu primeiro album. Placebo começa com Come Home uma bomba musical. A influência de Smashing Pumpkins era notória na bateria de Steve, uma forte predominância da parte instrumental que assola por completo a primeira musica de uma carreira invejável. Bionic consegue reunir os maiores créditos no album, tornando-se umas das melhores musicas que Brian e seus companheiros fizeram em todo o seu percurso. Tanto uma como a outra carregam em si uma inesgotável fonte de exaltação temperamental, uma mistura dinâmica de impulsos adolescentes carregados de desenfreada sexualidade com uma precoce procura de vida. Dois registos que sem duvida catapultam esta banda não só como uma percursora de rock puro e bonito de se ver com um premente existencialismo. Segue-se I Know e Lady of the Flowers, como outros dois grandes momentos do trabalho acompanhados pela ininterrupta 36 Degrees. Aquele ‘i’ve never been an extrovert happily bleeding..’ não deixa ninguém indiferente....eu as vezes grito quando ele diz happily bleeding...mas não. Placebo arrisca-se a ser um dos melhores albuns de rock de sempre e um consistente e fantastico album de Placebo. Não obstante, os dois singles escolhidos, Nancy Boy e Bruise Pristine, ficam muito aquém do que este trabalho nos pode fornecer...mas lá está...singles :S anyway é dos albuns que mais roda na minha aparelhagem porque rock sempre foi a minha base. Além de que voz de Brian é voz de Brian. Um vício.
Em 1998, Without You I’m Nothing, vem glorificar uma carreira que se esperava mais que promissora. Ask for Answers e Without you I’m Nothing, tornam-se em soberbas obras de arte musicais, com especial ênfase para a emotiva segunda musica citada que dá nome ao album. Aqui assiste-se a um atingir na perfeição musical da banda como um todo, com a força desesperante de Brian Molko na voz que lhe concede toda a sua alma. Maduro, indissociável, atípico, acaba por se tornar em algo diferente do primeiro registo, na medida também que nenhum outro trabalho deles se pode comparar ao primeiro, e a iniciação em outros domínios sai um sucesso. My Sweet Prince é provavelmente a musica mais original do conjunto, encerrando um apelo simultaneamente introspectivo como sarcástico. Arrisca-se a ser também considerado o melhor album da sua historia, pois no percorrer de cada faixa, ele nunca decresce de nível, assumindo contornos deliciosamente funcionais. Existem grandiosos momentos. You Don’t Care About Us. Summer’s Gonne. Every Me Every You. Brick Stickhouse.Chegamos a 2001, e eis que explode, Black Market Music com a imponente Special K, provavelmente a musica mais conhecida do trio europeu. Curioso que foi com ela que os conheci mas foi este o ultimo album que dei ouvido. Terrivelmente inovador, Brian e seus companheiros enveredam por um estilo um pouco diferente, Brian até partilha a sua voz com um rapper em Spite&Malice, que resulta fantasticamente. Este projecto concretizado inclui uma diversidade de estilos e graduais representações artísticas, sem duvida que a linearidade de valor é um objecto a admirar e a elogiar. Temos um single menos bom(pois lá esta eu e os singles), chamado Taste In Men, mas depois aceleram sem destino para voltar, até ao topo da irreverência musical. Temos Special K(que me provoca orgasmos na parte Gravity), Black-Eyed, Commercial for Levi, Haemoglobin, Narcoleptic, Peeping Tom, Days Before You Came. E depois temos dois registos intemporais e que para mim caracterizam e competem para o lugar de melhor música do album: Passive-Agressive e Blue American. A caminhada vai no adro e chegamos a 2003.

Se eu fizer uma avaliação pessoal, de facto, sim, Sleeping With Ghosts é o melhor album de Placebo. A mim transporta-me para outro mundo, por vezes aquele que entrei quando o conheci pela primeira vez, como para o mundo da exorcisão metafisica da premente pergunta retórica que fazemos ao mundo. Eles tocam no fundo da transcendentalidade das suas composições transpostas para uma realidade exultante e expectante. Sim dá vontade de lhes dizer:’ é isso aí!!!’, mas mesmo. Chegam a pegar nas bases de Sade, o grande Marquês de Sade e nas dissertações de Bataille. Este com certeza iria gostar de conhecer estes senhores e se pudesse escolher uma banda sonora para acompanhar as suas obras escolheria esta. Ultrapassam-se sim. Saliento English Summer Rain,This Picture, Sleeping With Ghosts, Bitter End, Special Needs, Protect Me From What I Want e CentreFolds. Um video memoravel- Special Needs. Ai estavam mesmo inspirados =) de realçar a força de This Picture. E uma versão francesa não incluida neste album de Protect Me From What I Want denominada Protege-Moi. E aí alcançamos um bico de obra porque esta juntamente com Bionic disputam o primeiro lugar na minha preferência pessoal. A mais atípica, a mais incomparavel musica de Placebo é esta, com uma certa queda pela versão french. Um video realizado pelo Gaspar Noe(só podia), um cenário de Bataille em cenografia de Christopher Honoré. As vezes as letras dizem o que dizem, fazem-no apenas mas aqui assiste-se a um aprofundamento da mais básica questão humana. E quando se atinge um patamar um pouco acima do que é esperado, é de marcar na história da Música.Meds surge em 2006 com dois grandes momentos, um denominado Meds e outro Drag, com uma In the Cold Light of Mourning soberba. E só. Nem todas as bandas conseguem fazer sempre ilustres albuns e aqui apresenta-se um queda meio abrupta. O album menos luminoso e menos brilhante. Quem conheceu Placebo através deste album deve seguramente conhecer o que eles fizeram antes porque de certo terão outra perspectiva. Todavia não deixa de ser agradavel ouvir Molko em varios registos, onde a meu ver, nem todos se igualam e todos tem o seu carisma. Onde saliento sem duvida nenhuma a musica que faz revirar tudo. Drag. Obrigada Placebo =)
Não esquecer os inebriantes covers, como Johnny&Mary, Bigmouth Strikes Again, Where’s My Mind e o actual Running Up that Hill.

Placebo é um tratamento inerte, que pode ser na forma de um fármaco, e que apresenta efeitos terapêuticos devido aos efeitos fisiológicos da crença do paciente de que está sendo tratado. Pode ser eficaz porque pode reduzir a ansiedade do paciente, revertendo assim uma série de respostas orgânicas que dificultam a cura espontânea:
· Aumento da frequência cardíaca e respiratória
· Produção e libertação de adrenalina na circulação sanguínea
· Contracção dos vasos sanguíneos

Pessoalmente a mim deixa-me louca. Addicted mesmo.Foto by me na segunda fila do CreamFields Lisboa

maio 13, 2007

waste on you

Era mesmo a única coisa que me apetecia quando desci e assentei no pulsar daquelas batidas. Era exactamente deixar-me esvair como o mar de sangue que periodiamente me escorre pelo corpo, num dilacerante descontrole da minha embriaguez mental. Era chegar aqui, e aqui não estar ninguém. Eu não queria ninguém. Eu queria apenas entrar e que este espaço fosse só meu e estivesse completamente vazio de almas, corpo, e material. Que fosse todo desapoderado de respiração alheia e de pulsações exteriores. Queria-o só para mim sem qualquer parede sequer de forma a que eu me evadisse totalmente sem as barreiras usuais da comunicação. Essas que me limitam e me transportam para aquela dimensão da incompreensão. Mas era algo mais. Aqui havia algo que realmente ultrapassava tudo.
Havia o cansaço, havia o fatalmente. Quando tudo é fatal, em qualquer momento da nossa vida, sentimos assim uma eclosão quase laboratorial em crescimento contínuo, numa perspectiva egoísta da nossa saciedade intelectual. Olhamos em redor todavia não identificamos nada que nos transmita aquilo que queremos ver porque, de facto, não queremos ver nada. Porque o nada, o vácuo que afinal nem existe e só nos estilhaça, clama pela nossa insanidade aleatória. Qual espaço, qual divisória, aqui nada nos separa. É estranho. Acaba por ser guturalmente monocórdico. Uma falta de palavras. Eu não sei comunicar pela falácia da linguagem, nem pelos intermédios que brotam da minha imaginação fértil(essa esconde-se atrás de um arbusto gigante e não me deixa assomar nem por um pouco), eu apenas naquele instante mantenho-me na minha posição que não avança nem recua.
E depois? O que mudou? Mudou muito. De facto mudou imenso. Nem eu sei creio eu. Mas sim. O que eu queria mesmo era que este desgaste, este waste on you, penetrasse na minha pele e erradicasse por todos os poros, por todas as vias e me transplantasse para um terreno, o qual eu penduraria a minha cabeça por uma moldura de quadro castanha, e pendesse o meu corpo por igual numa linha simétrica onde me conseguisse ver pelo outro lado. Esse outro lado. Acaba por ser uma questão insistentemente metafórica. Eu acabo por me permitir ascender a esse porto inseguro, esse posto de passagem obrigatória, aí está a palavra, obrigatória. Não preciso nem me ressinto com as atitudes, elas passam-me ao lado e assusta-me o facto, não de passar ao lado, mas de tudo aquilo convergir para um ponto, que por mais que procure não encontro, dentro de mim. E aí dentro de mim, situa-se a encruzilhada que me consome o espirito e me engradece a existência. Dentro de mim saltam as necessidades primárias. O desejo mais visceral de me relacionar sexualmente com a minha intempérie freudiana, com aquele snobismo material que teme a presença de mim neste ponto onde nada se intersecta e tudo se sobrepõe.
Sabe, sabe fundamentalmente bem a àgua e a luz ténue que ilumina essa circuncisão que efectuei propositadamente no meu corpo, na minha perna, no meu tornozelo, no meu peito. Agride puerilmente esse desdobrar consecutivo de imagens invertidas onde meras ideias se ligam a meros esforços alheios, onde afinal custa interiorizar mas não custa perceber, e nesse ponto, esse que desconheço assenta essa procura, essa força meio mal direccionada que decididamente desprezo. O que resulta dessa decisão? Pode resultar tudo como nada. Posso resultar eu. Eu resulto sempre. Que parte de mim? Essa que desceu, andou e sentiu tudo em cima de si? Não haveria suporte. Poderia ser comprado, angariado, leiloado, estaria simplesmente à venda? Creio que não.
Eu desci não para isso, não para responder sequer, eu saí para me esvair, esvair num patamar qualquer, num chão qualquer, num branco, num azul amendoado, eu apenas fui anotando os restícios dos dias, ignorando as sensações, todas elas antigas e carregadas de pó. Porque não me faz falta.
Eu cumulativamente nem cheguei a descer um degrau que fosse, na medida que aquilo que se me apresenta diante dos olhos não passa de uma mera percepção, uma súbita pertinência, uma indissociável característica comportamental. Mas quanto a isso....


listening@ Waste/ Archive.

maio 05, 2007

where soul meets body

[i want to live where soul meets body]

[1:27] até [1:43]

Despoletou. Assim de forma abrupta, uma linha equatorial, que divide linearmente os dois pontos equidistantes que formam um plano metafórico entre duas consciências sobrepostas.
Ela assim o pressentiu, seguiu por ela, fechando círculos à sua passagem. Parou e incendiou um pequeno recipiente de volume incalculável, volume esse que continha uvas misturadas com framboesas. Sentiu que no percurso que percorria nada mais a suplantava naquela dimensão.
I'm so glad I've found this
I'm so glad I did
Era azul e amarelo que deslizavam numa corrente neo-post-punk. Fechou-se no quarto verde e sentou-se ao redor de uma mesa com um enorme jarro cheio de acácias, lírios gigantes que enchiam o compartimento com um aroma inebriante. Podia ser até exagerado mas aquele exagero consumia-o num vasto périplo de sinfonias a médio-som. Ouvia-se Debussy, mais para ali adiante, um Haendel. Sentado envergava um Maurier. Lia-o incessantemente como se aquela melodia de fundo o catapultasse num trém que o conduziria ao extase da sua inteligência.
People are fragile things, you should know by now
Be careful what you put them through
You'll speak when you're spoken to
Imóvel, sentada, fumando ao altar. Podia ser sim. Deitada, carregando o fardo dos nervos a descerem e a subirem pelo corpo todo. Provavelmente se se concentrasse um instante alcançava o aroma a hortênsias azuis. Conseguia pegar naquelas folhas mais uns minutos, adormecia sorrateiramente, no vão do seu projecto.
We are the earth intruders, Muddy with twigs and branches, Turmoil! Carnage!

Que nada tenha de vão para um sem número de audiências adormecidas.
With one hand you calm me
With one hand I'm still
Deliciosamente ouvi-o de uma ponta à outra, parece ser uma mistura de um Vespertine e de uma outra mistura de Debut e Telegram, assim umas faixas fashion na eclética comparceria de sons e umas vozes mais elevadas ao expoente como Unison e Undo. Curioso e positivo.

Estava cansada. Penso que ainda se mantém. Aproximei-me dela, estava sentada ao balcão. Tive sorte. Os olhos sempre muito vivos, um sorriso agradável, a denúncia da sua loucura existencial sempre presente. Contou-me de si. De repente senti qualquer coisa como um riso, uma vontade súbita de rir, parei a tempo. Continuámos. Observei-a nos gestos, nas atitudes, nas falas, nas posições. Rimos as duas. A certeza que daquele material era que eu também era feita notabilizou-se na minha mente. Senti-me compreendida. Pouco desabafei porque agora, agora que ela enveredou por um caminho que tão pouco esperei para ela, ela nunca me compreenderia. Avançámos em direcções opostas. Concluímos que nunca fomos tão felizes quanto naquela altura.

Here's my version of it, eternal whirlwind

Era fantastica a sintonia que se estabelecia com aquele som. Era sobrenatural que tudo se encantasse e desenvolvesse de uma forma nunca vista. Fazia tudo ter uma onda de sentido, uma base estável em que ao assentar logicamente não nos feríamos. Por mais exaustivo que seja o processo ele sempre traz qualquer coisa de indissociável da corrente natural, dos humores, das disponibilidades, até das circunstâncias da vida.

Intocável.

It breaks when you don't force it
It breaks when you don't try