agosto 02, 2008

. sexual suicide .

. Hoje acordei louca. Mas eu sou louca no corredor da minha inocuidade. Hoje pensei no que sou. No que faço. Hoje acordei agoniada, hoje acordei morta. Hoje levantei-me e acendi a minha chama permanente. Hoje tentei distendê-la de forma a não apagá-la. Hoje deixei cair um copo onde se reunia toda a minha insensatez e a minha teimosia. Hoje deixei que a doença que padeço me obscurecesse a realidade.

. if you find me, hide me, i don’t know where i’ve been .

O caminho que sigo. O caminho que se perpetua perante o meus olhos. O horizonte salgado. A necessidade de mim. Eu corro por mim. Eu vivo por mim. Eu dependo de mim. E permitir que esse desejo seja destruído pela minha estupidez. Pela falta de controlo. Pela falta de sabor. O sabor da minha pele, do meu sangue, das minhas lágrimas. A cor do meu rosto, da distância amparada pelos vértices das minhas perdas, da rebentação das ondas. Um mar que clama por mim mas que não me sossega a existência. Porque eu entrei, eu mergulhei, eu dilacerei mas eu não senti. E apenas sentir esta ansiedade que me enoja a alma a incendiar-me o simples passar das horas. Dos minutos. Dos segundos.

. she’s still calling around to find half an hour .
. she’ll always have a place in my mirror .
. she’s got no more time now she wants mine .

. É como querer expulsar. Não conseguir. Não tentar. Não respirar. Porque somente ambicionava que este sufoco me fosse retirado, não como quem toma um comprimido para esquecer mas como quem projecta a 1000 km/h um calhau volumoso que nos isola o estômago do resto do corpo. Como se eu pudesse cuspi-lo para a Índia. Ou talvez Japão. Mas que iria lá ele fazer? Nada. É como rejeitá-lo para a terceira Via Láctea. Essa onde coabitam seres que pudessem facilmente exterminá-lo e digeri-lo.

. Realidade. Na realidade eu nunca soube digeri-lo. Nunca se tratou de gerir. Porque não havia nada para gerir. E se for sincera sim custa saber. Custa ver. Custa aperceber. Custa também não estar para ver. E de um momento para o outro, não esperei. Fui apanhada de surpresa. Ouvi, senti. Novamente. Sim era dela também. Mas aquelas palavras, aquela melodia atingiram-me.

. but i’m all out too .
to thy self be true
to thy self be true
to thy self be true .

. De uma forma inexplicável mas passageira. Eu estava ali a lutar pelo meu último objectivo de vida, a correr atrás de um prejuízo que nunca promovi, mas a galgar montanhas e colinas. E depois parei. E ela desceu. Desceu e circundou-a tal como ele a circundou com a sua língua. Era fria. Estavam provavelmente uns 28 graus todavia eu sentia-a glaciar. Exactamente a mesma. Ela. Rodeou-a. Da mesma forma que aquele aparelho no dia anterior a esmagou. E da mesma maneira senti um aperto crispado. Um bater vil do meu pensamento, uma dor esquecida. Uma sintonia entre a razão e a emoção. Porque apesar dela ser imcomparável volumétricamente era como se pesasse como uma barra de ferro pesaria sobre o meu peito. Não era desespero, era honestidade, era um sentimento sincero, puro, promíscuo, sujo, real. Era uma memória, contudo uma memória apocalíptica. Não era complexa. Era bem simples. Expectável. Real.

. will we always be like little kids .
running group to group
asking who loves me
don’t know who loves me
it’s pathetic
it’s impossible .

. E se queres que te diga, eu sei. Eu confesso que sei. Sempre o soube. Porém que me adiantou saber? Mudou algo? Mudou a minha insanidade? Mudaram os meus horizontes? A minha perspectiva de vida? De fome, de luxúria, de sexo? Não mudou nada. E é curioso como me ofendo quando imagino que sempre fui um mero objecto sexual. No dele ou no pensamento de qualquer pessoa. Como se isso nunca fosse aquilo que eu procurava. Que eu sentia. Que eu queria. Que eu quero.

. there’s a new crime . let’s commit it .
. while we’re waiting on the next day . to begin it in the best way .

. Não, não sei explicar. Nem pretendo. Sei que me atravessam duas correntes opostas, em que me reviro de cada vez que uma delas me tolda a visão. Me escorraçam e atiram contra uma parede. Eu sei. Eu sempre soube. Eu estou cansada. Incrivelmente saturada de tudo aquilo que me preenche o espírito. Eu não estou cansada dele. Antes de mim. Anseio por mim mas já não sei viver comigo. Esgotei. Quero férias de mim. Gostava que estas férias não fossem apenas fisicas e circunstanciais, queria que elas fossem um instrumento que me proporcionasse a livre saída desta alma. Alma que me consome.

. please don’t be me .
. there are so many skirts under the table .
. none of these long legs are mine .
. she calls around, finds me crying .
. wish i were capable of lying sometimes .


. Estupidez? Sim admito. Possibilidade? Sim depende apenas de mim. Continuo a acreditar em mim. Na força das minhas obsessões transpostas para outros patamares. Continuo a olhar para trás e a encarar toda a possibilidade que me fugiu entre os dedos. Aquela, não que eu não soube agarrar, mas a que larguei, como se quando pretendesse, me bastasse apenas estalar os dedos e ela se recuperasse.

. hide out .
. love is hell, hell is love .
. hell is asking to be loved .
. hide out and run when no one’s looking .

. E sim eu detenho conhecimento que sou demais. Demais para ele, demais para mim. Demais para o mundo, que esse não restitui aquilo que perco todos os dias. Que ele nunca me restituirá nada que eu perderei, que basicamente isto não tem sentido nenhum. Que eu não tenho sentido. Que eu o perdi mas que alcanço. Que ele se fechou a um universo vasto que jamais terá capacidade para compreender. E mesmo assim eu deixo-me ir. Deixo-me invadir, deixo-me arrastar. Por mim é certo. Pelo que falta que me aparecerá um dia. Sexual suicide. É-o. Eu sei. Eu admito. Eu afirmo. Eu criei-o. Mais do que a doce voz da Emily. Eu sobrevivo com ele. E a única coisa que eu quero é libertar-me dele. De tudo. De mim.


. i only wanted what everyone wanted
since bras started burning up ribs in the sixties
favors are flying, faces are falling
all i desire is to never be waiting .

. there’s a new crime .