dezembro 31, 2010

lost the girl .

Em 2010 perdi a rapariga que habitava em mim. Que respirava, se contorcia, equilibrava, desequilibrava inconsequentemente, que deixava escapar terreno, que construía outro tanto. Pela primeira vez fui invadida por uma sorte qualquer, num tornado de sucessos constantes, de realizações plenas. Foi assolapada e completamente atropelada pos cascatas de concretizações, de projectos a meio e alto gás, por mim. E sei que o devo a mim. Ao preciso momento que parei e decidi interromper mais uma descida abrupta aos infernos da minha mente. E aí se deve a mim.
Nesse mesmo limiar, na decisão tornada efectiva, deixou de depender de mim. Desprendi-me do meu alter ego, encontrei outro, (sempre o tive?), ou deixei simplesmente de o ter? Para sempre? Sei que iniciando esse novo dia a dia uma força incontornável apoderou-se da minha vida, e concedeu-lhe o que ela sempre carecera mas nunca encontrara: um sentido. Um rumo. Um fio à meada.

Acabou por ser tão assombroso que me custava a digerir. Atitudes, momentos, metas, objectivos. Para mim era mais um. Mais uma. Olha outra. Mas foram-se somando. Será que por tal se tornaram vulgares? Não pode. Houve um hiato sim. Onde pude descansar. E quiçá parar. Esperando. Ajeitando. Estagnando. E esse mesmo todo que tantas vezes nos custa a assimilar. Que a troco de algo o tornamos em nada. É esse o significado.

Mas naqueles palavras, naquele encarniçado instante, em que saltava juntamente com ela, consegui finalmente, sentir dentro de mim, pulsando descompassadamente, o mérito do fim. Naquele preciso momento em que a interrompia, alterando a letra: ‘looks like I lost the girl’. E gritava, a minha voz sobrepunha-se a qualquer fileira, ali a segunda fila, eu sentia o que mais ninguem poderia sentir por mim. O fim.

E do fim se edifica um início. É este início que vivo agora, minuto a minuto, mês a mês. Agrupando-se e desmultiplicando-se por entre agrestes ramos, cheios de mim por vezes, mas sobretudo meus.2010 foi um ano imenso. A ele devo o salto, esse mesmo catapultar que tanto precisava. merecia. pensava. imaginava. queria. Nele cortei com laços, dilacerei em sangue, apreendi em seco. Sofrendo uma indigestão que me corroía a alma mas que me impulsionou para onde pertenço. Em 2010 perdi-me.

Watch as the wings unfold

outubro 03, 2010

[ ]

Perdi o sentido. A mim, a este espaço, deixado ao abandono, ao acaso. De uma inspiração repentina, depressa solidificada, assente em pilares juvenis porém voluptuosos.

Perdi o sentido ao passado, ao que tive, e ao que fui. Sinto-me a boiar sobre mim, a boiar sobre tudo, e sobretudo sobre nada. Vejo-me inacessível, flutuando entre o vazio que habita o círculo que roda à minha volta.

Did all this work for some piece of mind?

Observo-me como um todo desintegrado em mil partes, como uma mera partícula esvoaçando sem destino. Como um assombro absorvendo tudo o que viveu, digerindo através de um canal longo, largo e interminável, engolindo em vez de desmembrando. Consolidando seriamente a noção de obrigação, de uma rotina repetida metodicamente, essa mesmo perseguidora de um final sem fim.

Tapo os ouvidos, fecho a boca, grito histericamente implodindo os meus órgãos internos, nada se ouve, nada se mantém. Momentos em que clamo silêncio, que odeio o menor ruído (oh mas não abomino sempre?), que desejo a morte a quem se atreve a ultrapassar a barreira que imponho. Para fora de mim.

E depois perco o sentido, perdi-o, sei-o. Detenho conhecimento de. Nada faz sentido mas eu permaneço. Incólume, imaculada. Vendo tudo a girar e eu a deixar-me rodar com eles. Com o que se move ou o que permanece simplesmente inactivo.

There's no change

There's nowhere to stay .

É como se o tudo que se abateu sobre mim me tornasse imóvel, um singelo inerte que percorre um processo inteiro sem reagir, acumulando-se nos recantos poeirentos. Assistindo a um trânsito congestionado de tarefas e deveres. Onde o tempo não tem lugar. Onde eu não tenho lugar.

maio 24, 2010

you've broke my heart .


" You didn’t break my heart.


You’re nothing but a self-absorbed.

Self-indulgent. Little brat.

And our affair on set was nothing but a showmance .And when i said that you’ve broke my heart...


...i wasn’t talking about you darling . "

maio 08, 2010

[i'm] not stubborn .

É como se fosse uma saturação. Como se fosse uma tremenda apatia. Mas como se essa apatia fosse única e dominante. Como se fosse ela própria rainha do número infinitesimal de segundos que compõe um momento. Como se fossem eles por si próprios eclodir contra uma muralha de ferro, de aço revestido a cerâmica. Porém onde a temperatura não se mantinha nos 450ºC, antes oscilava entre os -30ºC e os 500ºC. Por aí. Subindo e descendo.

Como se não fosse possível prosseguir, andar, percorrer, preencher. Como se todo o desequilíbrio contido fosse apenas vomitado interiormente, e o vómito fosse ocupando as lacunas. Como se a raiva tomasse forma e essa fosse a de um monstro azul, pertubador, como aquele que aparece no Mulholand Drive.

It's a common thing, to be out of line
But it's getting old, by the fifteenth time...

E foi como se a cada dia que passasse, eu sentisse algo a crescer, dentro de mim, a condensar e a evaporar, dia após dia. Hora após hora. Como se cada dia fosse destinado a mais uma mudança de estado, de fase. Letárgica, orgânica. Como se algo fizesse falta. Como se simplesmente nada interessasse, estimulasse o vulcão adormecido.

Foi como se a chuva, o vento, as folhas, os autocarros, os assuntos temáticos, a mera companhia aos demais, a chamada confraternização, não tivessem lugar. Como se se tivessem afundado num vazio cada vez mais profundo e afastando-se do porto onde o meu corpo repousava. Afagando a mente, sentindo a falta deles, desenhados num círculo perfeito, que abrira outrora um poço colossal em mim. Guiando a minha alma numa resignação absolutista, carecendo da presença heterogénea. Onde se poderia escutar ao fundo:

' Everything is perfect now '

E onde daríamos as mãos, baloiçando histericamente na melodia, tal qual nos conhecem, circunscrevendo um círculo imperfeito. Aquele que se quebrou face à irreversibilidade da vida. Da nossa vida.

i'm still travelling . i'm still travelling .

É como se mesmo aquela minha luta, assente num fundamentado ideal, me concedesse tudo e me fizesse encarar o exterior como dispensável. Edificando a certeza da força apaixonada em tudo o que me envolve e constitui.

take your time, make up your mind
though it won't change the world, you'll be more inclined
to have a point of view, that makes it through

And keeps [me] travelling, keeps [me] travelling .

É como se simplesmente confirmasse que o todo está em mim.
[i] can't live life being second best
The critics talk of stubbornness
But [i'm] just passionate, [i'm] just passionate .

abril 22, 2010

ghosts .

É um aroma meio intenso que por vezes me assola, penetra dentro de mim, pelos meus poros, como se sempre me tivesse pertencido. É como se cheirasse a minha camisa, a minha saia, ou mesmo as minhas meias, e sentisse esse perfume, forte. É como se na abertura do meu soutien ele também se repercutisse e tivesse impregnado. Apenas na abertura porque ele desconhecia o fecho. Aroma doce.

i'm talking to fools .

E nesse encanto hostil encontrei o bloqueio parado, o fosso cismado, na minha mais etérea vontade. Vendo o desejo oscilar, precário, na impossibilidade de um desaire genético. De uma infeliz coincidência, numa mal-formação andrógena. Renegada, perdida, esquecida. Deixada sempre para o dia seguinte. Aquele que nunca veio. Baptizando fantasmas, destruindo fugas no subconsciente. Na gruta da minha saciedade.

talking to walls .

Busca. Procura. Saudosismos, virtuosismos. Paciências, tolerâncias, aquelas que começam a esgotar-se. Saturações. E a visão, o sentido, como se fosse uma ilha completamente isolada no oceano, onde eu distendesse as minhas pernas e elevasse estrategicamente o meu pé direito. Assente num sapato de salto alto preto, envernizado.

story died . truth inside .

‘aos olhos de Sabina, tudo era permitido. Jovem incauta, jovem indolente, a slut without being a whore, what’s the difference?, quelque chose, s’il vous plait. Angariar partículas infinitesimais. Qual a distinção? Wharever. Espelho colocado de frente para a cama, desfeita, embrulhada, amassada, whatever. E a consumação do acto quebrando em frente a esse tal espelho, estilhaçando o veneno, estancando o sangue da perda. Da liberdade, do ser, do consumo, integração humana. Optimização do ventre animal. Ela. Com o seu chapéu preto, bebendo whiskey. Sem cola, com gelo. Esticando as pernas, rasgando as suas meias pretas até ao joelho, que estalavam de cada vez que ela se contorcia na corda da sua submissão. Que perdiam a ligação de cada vez que ela se deixava cair. Cair. cair.’

story died . pain inside .

E assim se enrolava ela nos mantos do seu leito, sentindo o cheiro, o cheiro, cada vez mais doce e forte. Todo aquele aroma que a ofegantemente excitava. Já não mais Sabina, eu. Sabina um dia serei eu, quando tudo se colmatar. No todo que ainda não quis ocupar. Estupidamente, fulgurantemente.
it's over .

Completamente enlameada pela soberba da sua inquietude, chamou, acalmou. Oh vil natureza humana, a dita da humanidade que de nada tem que mereça ter esse nome. Nojo, vergonha, nacional, internacional. Necessidade de dissecar, torturar, esventrar o ‘outro’ para própria ocupação existencial. Porque o vazio que habita na maior parte dos seres humanos tende a clamar por uma ocupação em tempo recorde e conduz à extorsão virtual, social e pessoal do outro.

Quando a mesquinhez humana se faz ouvir, derramando a sua sórdida lava viscosa por entre outras ‘peças’ humanas, outros jogadores no mesmo campo, estes não podem mais que eclodir os seus fantasmas, vomitar, os seus fantasmas, evaporar os seus....fantasmas. Dissertando ao acaso, num vácuo sugado para dentro desta bola gigante que ainda continua a rodar.


i’m talking to ghosts .



P.S: Parece que abandonei este espaço mas não. Até me sinto mal de nunca mais ter escrito nada. Não abandonei, longe disso. E agora prometo, que irá mudar =)

março 04, 2010

erase . rewind .


Porque tudo é assim mas mantemos a dificuldade em acreditá-lo. Aceitá-lo. Encará-lo.


‘Olhou-me nos olhos como quem olha para uma certeza florescida em terra sã, bravia, indomável. Percorreu o olhar por esse castelo de arbustos encadeados, robustos, impenetráveis. Parou nos meus lábios, como sempre o faz. Continuou. Atirou uma pedra de granizo frágil contra esse escudo sereno. Eu acomodei-me à forma dessa interrogação’.

What do you want?

E naquela passadeira rolante deixei o meu coração saltar, eclodir, serpentear, permiti que fosse o arguido de um julgamento sem juiz. ‘Tudo bem, está tudo bem’. Saí, parei. Adormeci retoricamente em mim, constatei essa tensão crescer exponencialmente por entre os meus soldados guarnecidos a fel, absorvi essa base e levantada a um x quadrado. Estagnei. Não passa, não passa. Não entra. Não entra. Não engole, não flui. Estagnei. Nos nervos da minha subconsciência, no vómito do dia seguinte. E encontrei o meu coração vomitado em mil estilhaços no vão de um recipiente qualquer. Tumultuado. Não parado. Batendo cada vez mais compassadamente, fora de mim. Desta feita, longe de mim, paralelamente ao meu corpo.

Nada .

Uma vez ela, uma personagem de uma ficção televisiva qualquer, disse que não era o coração que doía porque o coração não dói. Era mesmo o seu estomâgo, esse âmago que trabalha 24 horas por dia, centrado bem debaixo do seu peito. Era esse que mirrava, desaparecia, batia, pulsava. Era aí que se sentia a efervescência do desencanto, da desilusão, da dor desmembrada.
Sentido-lhe o desespero na emoção libertada, fui obrigada a concordar. Na competência da sua representação, senti-me reconhecida. Como quem atravessa uma rua e é cordialmente cumprimentada quando alcança o lado requerido, ‘Então tudo bem? Há quanto tempo!’. Está tudo, tudo bem. Aqui do lado do meu coração.


i'm hanging on a thread that's bound to drop .

E como as marés que abrandam e descem, concedendo vazão a uma nova preia-mar, senti as ondas resvalarem do meu corpo, levemente me abandonando, como que me afagando lentamente, rebentando vagarosamente, espalhando a sua espuma branca pelo meu peito, barriga e coxas. Senti o equilíbrio bater à porta da minha tensão e aguardar tranquilamente a abertura dessa muralha. Senti-o penetrar e dissecá-la, docemente, quase sem se notar. De um momento para o outro. Tal e qual a minha bipolaridade me permite. Contudo senti acima de tudo, que podemos ser totalmente direccionados, consumidos e digeridos, por essa máquina egoísta que é a nossa orgânica existencial. Que todos os órgãos que constituem o nosso corpo se unem, como numa orgia musical, e se sistematizam num musical periódico, melódico, harmonioso. Onde a nossa racionalidade é apenas conduzida a ouvi-lo, inocentemente, incoerentemente, impotentemente. Como mera espectadora de si própria. Como mera observação de um reflexo no espelho.E analisando esse reflexo, ela identificou as notas soltas de uma composição maldita, que caminhava a passos largos para o túnel da auto-destruição, e dilacerou-as, atingindo-as com tiros certeiros em cada vértebra responsável pelo caos instalado. Residente nela, alimentando-se como uma ténia sarcástica, rindo-se do pobre corpo que habitou à má fé. Ela a razão, foi mais alta, foi mais forte no seu preto no branco.

but i'll always choose the black in front of white .

E aí é como se te tivesse escrito, como se nos tivesse escrito, numa folha de papel em branco, e fosse diariamente e como mais força, apagando com uma borracha rectangular de cor branca, essas linhas dispersas, difusas na minha turbulenta inconstância. Na minha ambígua insegurança.


Até ao dia que apagarei totalmente, de uma vez só.

E assim. Volto atrás. A ti, meu amor. A mim.


and when it hurts the most i’ll push a little more .

i’m back where i started at .


you know.

i’m a little lost .


5 anos feitos no dia 15 de Fevereiro. Espero que este post esteja à altura de tamanha data. Não me foi possível escrever no dia, mas não consigo deixar passar em branco. Cinco anos de construção de um canto que é só meu. E cada vez mais meu.

fevereiro 10, 2010

Lars...Lars...Lars....

Lars Von Trier nascido em København em 30 de abril de 1956 é um cineasta dinamarquês, conhecido por ter fundado o movimento Dogma 95 com Thomas Vinterberg, um manifesto com 10 regras de realização.


Depois de filmes como Breaking the Waves, Idioterne, Dancer in the Dark, Dogville e Manderlay, Trier escreveu/realizou Antichrist. Nas salas de cinema actualmente, encontra-se esta sua última obra, estranhamente aos meus olhos estreada nos cinemas. Visionei-o há sensivelmente dois meses e não esperava que tivesse honras de aparecer em cartaz. É tão complicado hoje em dia acreditar sequer que filmes de nomes como Trier façam dinheiro no nosso país que fiquei surpresa, contudo saúdo o acontecimento e escrevo a propósito desta estreia. Há muito que poderia ter falado de Lars mas agora materializa-se a vontade.É complicado dissertar acerca dele ignorando as suas obras e muito mais dificil será apreender Antichrist sem saber o que levou Lars a fazê-lo e sem conhecer a sua caminhada anterior.
Antes de mais Antichrist é redenção. Exorcisão do seu autor, libertação de demónios, uma obra extremamente auto-centrada e até autobiográfica, egoísta. No limiar da sua necessidade, ele próprio revelou que já foi uma sorte ter conseguido realizar este filme. Saído de uma depressão profunda, Lars lança-se no objectivo de expulsar o seu veneno, dar cor, vida e forma ao seu tormento. E daqui resultou Antichrist. Um filme de e para Lars Von Trier.

(e como eu gosto de dizer...) um prologue (em francês)...um dos mais belos e perfeitos prólogos feitos na história do cinema, Händel, Lascia Ch’io Pianga, um homem, uma mulher, uma criança, neve, um boneco de peluche e sexo. Seguem-se quatro capítulos, quatro etapas: Grief. Pain (Chaos reigns). Despair (gynocide). The Three Beggars. E um epílogo. Três animais. Muito do imaginário e da força do feminino face ao masculino encontra reflexo na obra de David Lynch. Então aqui denota-se um paralelismo. Há muito de lynchiano na caracterização dos animais de Trier. Há muito no exorcismo, na fantasia, no terror de Trier que encontra aconchego em Lynch.Uma interpretação fantástica de Charlotte Gainsbourg. E novamente, meu Lars...Lars...Lars. é um manipulador. Constante. Manipulou-me até ao choro convulsivo em Dancer in the Dark, dilacerou inteligência no brilhante final de Dogville, deixou-me um amargo na existência em Breaking the Waves. Onde Antichrist se relaciona com eles? Não se intercepta. Não se cruza sequer. É um trabalho aparte, indomável, forte, insidioso. Não são as meras transmutações mentais em ejaculações de sangue ou cortes genitais a sangue (e vista) frio, que fazem de Antichrist um filme censurável ou complicado de digerir. É o quão tormentoso foi o processo que Trier atravessou para vomitar os seus demónios e transfigurá-los em tela, sem pincel. O quão sacrificou ele para colocar dois actores atrás do seu próprio sangue estagnado.Aqui ele não manipula, aqui é ele o manipulado. Por si e para si. Mas onde se encaixa este Antichrist que agora estreia em Portugal e foi vaiado e incompreendido em Cannes? Encaixa-se na singular concepção de filme quase. O quase obra de arte. Não se conecta com as suas anteriores obras porque muito distinto é mas muito aquém fica do envolvimento visceral que elas transmitem. Antichrist estreia numa altura em que a palavra gratuito sai da boca dos críticos como se intensifica a necessidade de realizadores como James Cameron fazerem milhões. Dinheiro, poder, transcendentalidade. E estas onde se cortam?

Não acredito que Lars tenha chegado a um ponto estanque. Continuo a esperar que ele me incendeie a existência mas não a custa do seu próprio sofrimento. Pain and sorrow. Sem observar a sua garmonbozia prostrada aos meus pés. Não. Sim eu gosto muito de Lars Von Trier, ele me revolve, consegue mexer comigo...mesmo que eu não queira ou não consiga racionalizar conscientemente. Existe algo na misogenia e na sua pretensão artística que consegue quase o impossível. Porque me sintonizo no meu desepero. E infelizmente aqui, ele não o conseguiu. (também em nenhuma obra como Dancer in the Dark me senti tão humilhada emocionalmente). Sim. É essa mesma pancada psicológica que almejo. E Antichrist sem deixar de ser um notável filme, reduz-se ao grief que Trier fez de si. E ele sabe-o. Resta-me apenas a pena de não aceitarem que um carismático realizador faça porque o faça. E o obriguem a proferir o tão ingrato ‘i’m the best film director in the world’, que fala per si.Em Cannes este objecto cinematográfico foi alvo de alguma celeuma. Aqui deixo o momento.

http://www.festival-cannes.com/en/mediaPlayer/9902.html

e mais algumas páginas interesssantes:

http://cinecartaz.publico.pt/noticias.asp?id=249953

http://aeiou.expresso.pt/quem-e-lars-von-trier-cujo-filme-anticristo-estreia-hoje=f559277

janeiro 31, 2010

de battre mon coeur s'est arrêté .

Dói-me o coração. Tal como ele disse, ‘doi-me o coração’, mas eu respondi ‘o coração não dói’. Dói-me a dor da soturnidade a pulsar dentro de mim. Tic tac tic tac. Como um relógio de corda acertado de hora em hora.

Uma. Duas. Três. Quatro. Cinco. Seis.

Invariavelmente pára. Ele interrompe-se fugazmente nos meus meandros carnais. Por vezes acordo num esgar instantâneo, outras vezes apercebo-me que é como se ele tivesse parado dentro de mim. A respiração, a transformação, o coração. Aí não me dói. Aí pára. Assemelha-se a uma passadeira rolante estagnada. Como se cessasse bruscamente o movimento enquanto tivesse a andar nela confiante do meu destino. E fico parada. Não se sente nada, é como se a lava que percorre o meu corpo evaporasse. Fragmentando-se numa massa gasosa, preenchendo os meus compartimentos desgastados. É como se inspirar e expirar se confundissem e fundissem num só movimento. E eu sentisse a morte em mim. Muito mais do que acordar afoita desenhando quadrados no chão. Fugindo deles, evitando quebrar com a sua queda. É como se aquele espaço vazio no meio deles não fosse a minha única salvação.

Sinto uma paragem cardíaca quando acordo .

Olho para ela. Penso nela. Revejo-me nela. Nos seus grandes olhos azuis. Não os meus, os dela. No seu entrelaçar de mente e corpo. É como se quando estive deitada naquele sofá, e me contorcesse suplicante como ela, estivesse não mais que a comunicar etereamente, no ar, no olhar. Como se só pudesse ser assim. Já nem se trata de conseguir ser. Só pudesse ser assim. E depois recolho-me nela, escondo-me atrás da sua imagem em mim, ela é o meu escudo. É como se eu a conseguisse encarnar e ela deixasse de ser uma mera personagem e fosse eu.

we will touch the highest point of our communal nature . [ all vanities and pretentions will be set aside ]É como se eu também crescesse voluptuosa como a Couleurs dos M83. Ela cresce, invade, ela torna-se autónoma. Todavia eu não consigo. Fico ali no limiar. A subir, subir, por entres cordas débeis, escarpadas, brilhantes. Mas nunca alcanço o topo. O topo. O topo.

So why don’t you lick my soul? Get rid of my ghost .

Exorcisar. Escrever. Libertar. É isso que eu faço. Dói-me o coração como se tivesse equilibrada numa fileira de bonecos numa feira popular e miúdos de 13 anos andassem a fazer tiro ao alvo. Um deles acerta. E eu caio.

Sinto uma dor profunda no lado esquerdo da minha luta quando desperto .

Imagens difusas. Entregas que não sucedem. Chansons d’amour que não me envolvem mas um minuto. Ma memoire sale. Intitula-se assim. A cena? Perfeita. Contudo é a melodia, é a força que se exponencia ruidosamente como se eleva em mim a imperfeição de sintonizar o impossível de equilibrar.

A quoi bon les sanglots inonder les coussins?

E eu fico ali, lutando contra o nada, observando o tudo. ‘what do you want?’, perguntam-lhe. Os seus olhos azuis respondem. Será que os meus olhos castanhos igualmente se manifestam? Respostas. Respostas. Perguntas. Perguntas. Pergunta-me. Talvez eu te responda. Ou talvez ela te responda por mim.


Lave
Ma mémoire sale dans son fleuve de boue
Du bout de ta langue nettoie moi partout
Et ne laisse pas la moindre trace
De tout ce qui me lie et qui me lasse
Hélas
Chasse
Traque-la en moi, ce n'est qu'en moi qu'elle vit
Et lorsque tu la tiendras au bout de ton fusil
N'écoute pas si elle t'implore
Tu sais qu'elle doit mourir d'une deuxième mort
Alors...tue-la...encore
Pleure
Je l'ai fait avant toi et ça ne sert à rien
A quoi bon les sanglots, inonder les coussins
J'ai essayé, j'ai essayé
Mais j'ai le coeur sec et les yeux gonflés
Mais j'ai le coeur sec et les yeux gonflés
Alors brêle
Brêle quand tu t'enlises dans mon grand lit de glace
Mon lit comme une banquise qui fond quand tu m'enlaces
Plus rien n'est triste, plus rien n'est grave
Si j'ai ton corps comme un torrent de lave

e é como se estes 54 segundos fossem dos mais derradeiros na história da música. como se este intervalo 3:19-4:13, valesse o que valesse.

Ma mémoire sale dans son fleuve de boue
Lave
Lave
Ma mémoire sa dans son fleuve de boue
Lave Em cada pequeno patamar em que ela se distende. Salta. Eclode. Cresce.
Como os singelos patamares que derrubo contigo. Longe de ti. Lado a lado. Numa visão lateral. E porquê? Não sei. Não sei.

janeiro 14, 2010

pain and sorrow .

Quando é que o fogo realmente começa?

O que é necessariamente permissível entre o sentir e o emergir? Existe uma fronteira ténue, semi-cerrada, entre o âmago da revolução e o bloqueio verbal. Entre o silêncio ensurdecedor que cala as pequenas erupções intersticiais. Onde nos encontramos frente a frente e calamos encarecidamente esse suplicar malicioso. Observando a luxúria percorrer o nosso clímax existencial, vertendo a lava do nosso querer. Permitindo a essa mesma corrente de poder, prosseguir incólume, virgem, imune. A uma dor que dilacera os primeiros gritos de raiva, arquitectando uma explosão imerecida.

Chaos [ . reigns . ]

Nessa barreira reside a culpa condenada, o vazio dependente, que nos arrasta, organizando-nos, numa árvore de censuras patéticas. Onde sair de nós implica fugir deles, no exterior, acarreta despirmos a nossa armadura feita de fel. E aí, procuramos o alimento que nos sustente nessa frágil linha, garmonbozia. Soando initerruptamente nas teias do controlo, vasculhando aleatoriamente as emoções de uma humanidade violada.Daqui, do alto da minha garmonbozia, consumo, recolho, rejeito, explodo. Demonstro, evidencio, exponho. Exponho a ti, meu amor sereno, dor e sofrimento. Envolvência e pena, sangue que não cedo, fixação que não destruo.


Como eu gostava que esse limite entre sentir e eclodir fosse tão simples e legítimo como a desilusão de não encontrar o reconforto.


I want all my garmonbozia .

janeiro 07, 2010

2009

Não, não foi esquecido, renegado, ignorado. O tempo, que destrói tudo e nada corrói, intacto, estralhaça a oportunidade. Contudo 2009 está aqui, esteve aqui. E assim se apresenta.

......


Porque mais que Gent. Muito mais que capítulos recobertos de bolor e teias de aranha. De força e suor. Sim. Manteiga e pipocas, gomas em formas de ursinho, misturadas, não necessariamente por esta ordem, oh so creepy, ‘Je ne peux vivre sans toi’, mon amour mon ami. Mundo, paz, equilíbrio, descoberta. Paz. Já mencionei? Vontade. Organização. Luta. Determinação. Noite. Neve, flocos de neve, cobrindo o meu peito, o meu sensaboroso arrastar, lali, ‘et je ne sais pas pourquoi’, puna. Objectivos. Vida. Mesmo na minha dianteira. Ver antes de interiorizar. Mel, doce, tranquilidade. Nós. A rolha que me saltou das mãos no exacto momento em que ele derrapou em mim. E sim um ano que se iniciou nos marcos erráticos da sociedade, nos marcos estagnantes da sobriedade. Do que tem de ser e do que é. Saltou. Inundou. Entrei. Clamei ‘show me some revolution’. E ele, concedeu-me.

É isso que queres? - indagou ele
Sim. – respondi euEt je sais très bien pourquoi. Ah ah ah ah ah ah.E aí instalou-se, 'segura lá', a utopia, a frustração, a força inimaginável, desafio, suporte, eu suportei sempre, eu levei sempre, sem olhar sem sentir. Simplesmente vivi a revolução sem perguntar sem questionar a dor, cor, temor que dançavam dentro de mim. Não havia tempo. Não houve. Melhor assim? Revolução. Simplesmente nem reflectir, prosseguir, respirar, ceder forças, as que existiam e não existiam. Turn it up turn it up turn it up turn it up. Turn it up turn it up turn it up turn it up. Turn me on. Sempre, sempre em mente com a frase, cantarolando, enviesando, ‘ganhei o que eu queria’. Imaginando ser um polvo espaçoso, um lunático ser dos mares que guardava em si a voz da necessidade, encaixada em si num molusco diário. Guardada para um dia, ela, a voz, a vida, soltar.E o tempo passou para fora e para dentro de mim. E eu escrevi, pensei, recalquei, engoli, sufoquei, dentro de mim, mesmo no interior desse vulcão em ebulição, apresentei, preparei, madruguei, continuamente. Lutei, revolvi, arrumei, desfiz. Iludi, desiludi. E viajei, arrastando atrás de mim um corpo imóvel, um corpo que apenas concebia o presente. E lá em Gent sim, hello Gent, como quase o ouço interceptar, clamei, continuei, dia após dia, noite após noite, sem pensar, sem parar. Parar, parar, parar. Não. E aprendi. Na maior das fossas existenciais, aprendi que na avidez do nosso encontro pode residir a mais obscura forma de o adiarmos. Adiarmo-nos a nós mesmos. Para quê estarmos? Para quê sermos? Lidar. Aprender a ultrapassar fronteiras, aprender a ser no vínculo e na obrigatoriedade do outro ser. Do exterior. Lidar, gerir, qual exterior, vomitar, eclodir, lançar as nossas mais primárias vísceras em círculo concêntrico. Fugir, saltar fora, como eles dizem. Costumizar o impossível. E encontrei a resposta, o pânico, vendo o meu corpo crescer, aumentar, vendo a minha saciedade desmoronar no patamar ao lado, o mais distante, encarando apenas que essa revolução, essa mesmo que tanto exigi, mostrava-me agora a visão da minha tão desejada evasão. E quando a reconheci e quando a encetei pela primeira e derradeira vez, foi-me ilustrado que ela não existe gratuitamente, que ela não se dispõe involuntariamente. Provei-lhe o sabor mas antes de tudo visionei o caminho para a alcançar vorazmente.

fuck the pain away .


Très bien mais now go. Corre, não desiste. E eu continuei, sem tempo, a perder, a ganhar. Madrugadas. Dores. Muitas dores, muitas dúvidas. E Lisboa oh minha Lisboa....senti em ti aquilo que quiseste que eu sentisse. E oh felicidade das felicidades, fui feliz. E oh, sarcasmos dos sarcasmos, a identidade estava lá intacta. Mas num novo corpo, numa nova mente. Numa nova forma de exteriorizar, num novo interior, num novo enquadrar, num castelo arquitectado e crescendo dentro de mim. Onde as ligações se intercruzavam e abriam alas para o eterno e ansiado mundo. O meu. E sem parar, sem questionar, sem quase respirar, ofegantemente, 2009, passou por mim, nem se despediu porque é como se tivesse parado dentro de mim, enraizado nos meus holes, é como se simplesmente formasse parte do meu sangue. É como se parte de mim fosse 2009. E 2009 fosse eu.

e como a música é tão importante para mim quanto essa tal de vida e/ou evasão, 2009 foi um ano muito recheado. Pretendo compilar e colocar disponível um certo volume, mas como ainda não tive oportunidade de tal, adianto o nome das mesmas. Estas músicas iniciam-se apenas na época Gent. São uma mistura de músicas mais pessoais com músicas que simplesmente marcaram o momento. Deles e de mim. Ou só deles. Ou só de mim. Mais à frente, refiro alguns dos albuns que considero do ano e que rechearam os meus momentos.

1. Kid Cudi - Day and night
2. Lylli Allen – The Fear
3. Stars - Life Effect
4. Depeche mode - Wrong
5. Bat for Lashes - Trophy
6. Lali Puna- Together in electric dreams
7. Phoenix- If i ever feel better
8. Garbage - You look so fine
9. Justice – Genesis
10. MIA - Paper Plans
11. Hercules & Love Affair- Blind
12. Royksopp - Sombre Detune
13. The Strokes - Last Nite
14. Yeah Yeah Yeahs- Hysteric
15. The Whitest Boy Alive – Courage
16. The Notwist- One step inside doesn’t mean you understand
17. Patrick Wolf – Bloodbeat
18. The Organ – Let the bells ring
19. The Notwist – This room
20. Phoenix – Lisztomania
21. Grizzly Bear – Two weeks
22. The Notwist - Consequence
23. Telepathe- Can’t stand it
24. Patrick Wolf – Vulture
25. Animal Collective – My girls
26. Animal Collective – Daily routine
27. Animal Collective - Bluish
28. Hercules & love affair – Iris
29. Patrick Wolf – Hard times
30. Junior Boys – Sneak a picture
31. Au Revoir Simone- Last One
32. Placebo - Happy you’re gone
33. Passion Pit – Smile upon me
34. Thievery Corporation - Só com você
35. Placebo - Astray Heart
36. Empire of the Sun - We are the people
37. Lilly Allen - Fuck You
38. M83 - Couleurs
39. Kings of Convenience - Mrs. Cold
40. Depeche Mode - Fragile Tension
41. Peaches - Fuck the pain away
42. David Lynch - Star Eyes (i can catch you)
43. Royksopp - What Else is There
44. Bebel Gilberto feat Telefon Te Aviv - All Around
45. Michael Jackson - Billy Jean

e aqui acabou Gent.

Depois temos albuns do ano sim. sem qualquer ordem específica:

Au Revoir Simone - Still Night Still Light
Animal Collective - Merriweather Post Pavilion
Kings of Convenience - Declaration of Dependence
Depeche Mode - Sounds of Universe
Placebo - Battle for the Sun
The xx - the xx
Junior Boys - Begone Dull Care
Cold Cave - Love Comes Close
Patrick Wolf - Bachelor
Soap & Skin - Lovetune for vacuum
Telepathe - Dance Mother
Yeah Yeah Yeahs - It's Blitz
The Whitest Boy Alive - Rules
Phoenix - Wolfgang Amadeus Phoenix
Passion Pit - Chunk of Change


e sem mesmo qualquer ordem. Patrick Wolf foi provavelmente o mais 'meu' e Depeche Mode o mais corrido no mp3. A minha música do ano foi a Hard Times de Patrick. Por isso sem qualquer tipo de ordem.