dezembro 31, 2010

lost the girl .

Em 2010 perdi a rapariga que habitava em mim. Que respirava, se contorcia, equilibrava, desequilibrava inconsequentemente, que deixava escapar terreno, que construía outro tanto. Pela primeira vez fui invadida por uma sorte qualquer, num tornado de sucessos constantes, de realizações plenas. Foi assolapada e completamente atropelada pos cascatas de concretizações, de projectos a meio e alto gás, por mim. E sei que o devo a mim. Ao preciso momento que parei e decidi interromper mais uma descida abrupta aos infernos da minha mente. E aí se deve a mim.
Nesse mesmo limiar, na decisão tornada efectiva, deixou de depender de mim. Desprendi-me do meu alter ego, encontrei outro, (sempre o tive?), ou deixei simplesmente de o ter? Para sempre? Sei que iniciando esse novo dia a dia uma força incontornável apoderou-se da minha vida, e concedeu-lhe o que ela sempre carecera mas nunca encontrara: um sentido. Um rumo. Um fio à meada.

Acabou por ser tão assombroso que me custava a digerir. Atitudes, momentos, metas, objectivos. Para mim era mais um. Mais uma. Olha outra. Mas foram-se somando. Será que por tal se tornaram vulgares? Não pode. Houve um hiato sim. Onde pude descansar. E quiçá parar. Esperando. Ajeitando. Estagnando. E esse mesmo todo que tantas vezes nos custa a assimilar. Que a troco de algo o tornamos em nada. É esse o significado.

Mas naqueles palavras, naquele encarniçado instante, em que saltava juntamente com ela, consegui finalmente, sentir dentro de mim, pulsando descompassadamente, o mérito do fim. Naquele preciso momento em que a interrompia, alterando a letra: ‘looks like I lost the girl’. E gritava, a minha voz sobrepunha-se a qualquer fileira, ali a segunda fila, eu sentia o que mais ninguem poderia sentir por mim. O fim.

E do fim se edifica um início. É este início que vivo agora, minuto a minuto, mês a mês. Agrupando-se e desmultiplicando-se por entre agrestes ramos, cheios de mim por vezes, mas sobretudo meus.2010 foi um ano imenso. A ele devo o salto, esse mesmo catapultar que tanto precisava. merecia. pensava. imaginava. queria. Nele cortei com laços, dilacerei em sangue, apreendi em seco. Sofrendo uma indigestão que me corroía a alma mas que me impulsionou para onde pertenço. Em 2010 perdi-me.

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