dezembro 31, 2008

. we won't return here .

Desta vez não há muito a dizer. Desta vez não consigo porque me amarga a boca recitar o ano. Porque também apaguei vários fragmentos e vivências de mim e assim recordá-lo pode soar a falso dado que me perco a tentar juntar as peças desconexas. Porque hoje sinto algo que me alimenta o espírito apesar de todo e qualquer percalço existencial. Apesar dos objectivos nem sempre tudo se alinha na mesma vertente mas isso sucede a qualquer um. Conflitos exteriores e interiores. Porém apesar de ter concluído o ano passado com outras perspectivas para o futuro, desconhecia que 2008 nunca poderia ser nada a partir do momento em que eu mesma não era eu própria.

Com 2008 eu aprendi muito. Aparte de todo e qualquer amargo de boca. Com 2008 eu aprendi que o caminho não é sair de mim, e fugir sem destino. Que a fuga se deve processar apenas dentro de mim e deve ser limitada por barreiras que só eu as posso traçar. E ultrapassar. Senti-o como duas etapas, quase divididas pelos 6 meses que ditam os dois semestres do ano, em que num eu lutei e perdi-me, tentando a todo o custo encontrar-me sem sucesso e em que noutro eu fui basicamente ajudada a a encontrar um caminho. Pelo exterior sim mas eu também soube reconhecer-lhe o cheiro, a cor e o sabor e agarrei-o a mim. Sinto e sei que a partir de um dado momento comecei a ser eu novamente, a encarar o mundo como ele é, a aceitar-me e....sim. Não posso negar que me apaixonei perdidamente pela pessoa que eu era em 2007. Que eu fui. E tentei a todo o custo apaixonar-me outra vez. Mas como poderia apaixonar-me por alguém que não estava presente? Agora sim, isso é possível. E sei-o, sei que são tudo momentos, sei que nada poderá ser o que era, sei que sabores e odores não se repetem, sei que as coisas nunca serão as mesmas. Que eu nunca mais estudarei ER1 ou PEQ1 a ouvir Au Revoir Simone, que eu nunca mais sentirei o meu corpo deitado sobre esta cama que se distende atrás d mim da forma como eu senti. Sei que a plenitude espiritual que me invadiu nunca vai me alcançar de igual forma. Contudo sei que existem outras formas, e que não devo, porque erro grave o é, desejar o mesmo, ver o mesmo, quando ele não existe.

Agora eu sou eu sim. E esse eu tem tantas sombras e feitios que me permitirá, sem sombra de dúvida, viver na panóplia de instantes e vivências que só eu terei possibilidade de oferecer.

Do Equilíbrio.

it's time to grin and bear
you've been told they don't know
you've been told their hands are tied
we won't return.Bom 2009 a todos. Que este ano seja para vocês aquilo que eu sinto para mim. E o momento é agora. É amanha. Do Futuro ainda não reza a história. E o presente é tudo aquilo que temos. Como certo.

P.S: Adivinha-se e conhece-se com toda a certeza que estes dois meses serão complicados e impossíveis. Por tal, e como se isso já não sucedesse, é com pena minha que 2009 vai ter de esperar por um post até Fevereiro. Nada posso fazer. A vida chama por mim mas no imediato e neste imediado eu não posso falhar. Obrigada pela atenção, obrigada pelas inúmeras visitas ao blog, obrigada simplesmente às pessoas que aqui vem e se interessam. Sejam elas do outro lado do oceano ou que morem a 30 m de mim.

dezembro 05, 2008

.the past is a grotesque animal

. 'Ela entrou numa esfera de papel banco, opaco, transparente, papel de cartão sujo, branco-sujo, bege, redondo, abaulado, em espiral, fechado e concêntrico. Entrou e viu azul. Era uma cor límpida, era uma necessidade premente. Naquele momento todo o impulso era mandatoriamente permitido até mesmo o mais vertiginoso, pois nela se concentrava toda a sede de vida. A recuperação da alma, a caminhada para o altar. Ela atingiu-o, subiu através de todas as vertentes que se dispunham no caminho, seguiu dirigida pelo seu instinto, pela sua fome, pela sua descentralização. Afinal todo o seu corpo esvaía-se sobre o seu próprio eixo, qual Nin em tempos de desespero narcisista.

. but even apocalypse is fleeting there's no death . no ugly world .

Ela visionou, alcançou, sentiu e viveu. Pôde(possivelmente pela primeira vez na vida) assistir ao seu equilíbrio, desenhado sobre o chão, sobre as paredes do seu quarto, pelo azul claro, pelo cheiro da madeira, pelo seu repouso. Observou-o. Completou-a. Ela era outra. Ela era apenas.

Será possível uma felicidade maior?

Ela não reflectiu seriamente sobre tal, na realidade isso não interessava, naquele instante tudo lhe parecia para sempre porque ela, tal como a dimensão do tempo, eram para sempre. Naquele momento nada mais importava, se o exterior a poderia incomodar, se simplesmente ela saísse de si e escorregasse sobre o abismo da impossibilidade, ele a existir localizar-se-ia a 1000 km do seu ponto de abrigo. Do seu ‘eu’.

Enquanto ela vivia nela mesma, ela respirava e transpirava sublimação. Sublimação do ser, do ter, do fazer, do querer. Era tudo concomitantemente adaptável. A diferença na sua vulgaridade mais próxima assemelhava-se à sua essência. Ali ela era ela. Contudo viveu nessa moradia tempos infinitos ignorando esse facto, o que a conduziu a sucumbir ao primeiro chamamento de uma doce tentação. A da emoção.

Que a experiência dita as regras ela já detinha conhecimento. Porém dentro dela a atracção pela emoção sempre foi mais forte. Era o elo entre o eu e o não-eu. De entre os arbustos quotidianos que dividiam uma floresta amena de sensações e inquietudes, surgiu uma porta. Uma transposição entre um terreno ambientado ao seu 'eu' e uma possível ultrapassagem nesse ambiente criado. Ela riu-se. Gargalhou ao olhar para a porta.

Let's just have some fun
Let's tear this shit apart
Let's tear the fucking house apart
Let's tear our fucking bodies apart
But let's just have some fun.

Soletrou as seguintes palavras: ’se eu a transpor vou-me divertir, vou apenas viver(e como por vezes viver pode ter tantas facetas e como pode ser tão cómico).’ Abriu-a. Entrou. Prosseguiu. Desceu. Subiu. Retrocedeu. E quando parou constatou que estava lado a lado a si mesma. Aí rodou sobre o seu eixo e apelou à sua consciência. Ela tinha fugido de si própria.Naquele preciso momento deu-se o clique. Depois de ter aberto aquela porta ela nunca mais conseguiu regressar a si. Dançou, desequilibrou-se sobre a corda bamba que ainda a sustinha sobre a sua existência e foi-se debruçando, em vão, sobre todas as aleatórias respostas que pretendia encontrar. Esforçou-se. Ai ela esforçou-se. Mas dali não saiu mais. Ela tinha-se perdido no parque de emoções que ridicularizou, subestimando-o ao ponto dele agora a controlar intrinsecamente. Todavia ela não foi assim tão sarcástica nem ingénua. Ao entrar ela sabia para o que ia, ela desejava-o compulsivamente mas o nunca poderia dominar. Aqui não era ela a dominadora. Porque no parque de diversões que é gerido pela emoção nada é controlável. Ela sabia-o. Mas estupidamente deixou-se ir.

. sometimes i wonder if you're mythologizing me like i do you .

Uma outra esfera aproximava-se dela lentamente. Era novamente branca, feita de papel, suja. Do outro lado, havia uma cor encarnada. Ela espreitou, ela entrou. Penetrou na esfera. Nesse momento era a esfera que entrava por dentro dos seus poros e a consumia num mar de fel. Amarga inocuidade, ela vomitou a sua inteligência posta de parte, a sua perspicácia. Ela viu. Conferiu. E ao fazê-lo vomitou. De nojo, de horror, de dor. Como um seco soco no estômago. Violence! Violence! E aí, em vez de enveredar pelo oceano de angústia que teimava em inundar a sua displicência, ela retrocedeu, chafurdando peremptoriamente na lama da sua luxúria. Que vergonha teria o seu ‘eu’ sentido se a tivesse visto.

. and in its eyes you see . how completely wrong you can be .

E continuou. Deixou-se ir. Forçou-se. Lamentou-se. Dor muita dor, confusão, muita confusão. Até chegar ao ponto de partida. Aquele que nunca quis aceitar nem interiorizar. Naquele segundo ela rodou mais uma vez sobre si e conseguiu vislumbrar espelhado no seu horizonte, a podridão do seu redor. Entre resíduos e detritos orgânicos ela encontrou a sua biologia encarcerada no seu leito humano. Sempre tinha sido assim. Ela sabia-o mas ela não o queria aceitar. but at least i author my own disaster, at least i author my own disaster. Porque em todos os momentos que a emoção tomava conta dela, 50% a guiavam ao reino da conjecturação profana mas outros 50% a revolviam no mesmo desespero sem causa. Porque não foi irreal tudo o que ela viveu mal atravessou a dianteira da porta, embora esse mesmo tudo tenha sido enterrado ali mesmo mal ela fechou a porta atrás de si, mal deixou de ouvir o estrondo da mesma a encerrar. Ela sabia que jamais encontraria a mesma porta porém ela cedeu, cedeu à sua insanidade e percorreu vezes sem conta o mesmo caminho procurando incessantemente o seu ‘eu’.

On the night you left i came over
And we peeled the freckles from our shoulders
Our brand new coats so flushed and pink
And i knew your heart i couldn't win
Cause the seasons change was a conduit
And we left our love in our summer skin

E rodeada por todo aquele amontoado de evidências e claustrofobia elementar ela ergueu-se sobre si. Concluiu que tudo aquilo que vivera tivera sido uma ilusão momentânea do seu ego, da sua procura pela palavra vida e corajosamente assumiu para si que sempre tivera sido um mero objecto descartável.

. i don't recall a single care . just greenery and humid air .

Outra esfera emergia no seu campo de visão. O mesmo branco, papel sujo, redondo, abaulado. A mesma cor do lado de dentro. Encarnada. Desta vez ela saltou, vorazmente como a sanidade corre atrás da racionalidade. Sentiu-se difusa, ambígua. Circundou-a uma panóplia de luzes incandescentes todas elas intermitentes sobre o encarnado. Andou, prosseguiu. Empoleirou-se sobre um escorrega cinzento-metálico e deixou-se deslizar. Era a sua paz que vociferava agora de alívio numa euforia grotesca, acompanhando a descida sublime dos seus membros agastados, saturados de tanta ansiedade contida.
Quando ela alcançou o seu destino, sentou-se e levantou o olhar. E novamente foi possuída por um foguete de audácia. Com a chave do parque de emoções cravado na mão perguntou pelo seu ‘eu’ e sorrateiramente por debaixo de um abeto incendiado ele assomou ensonado como se não dormisse há décadas.

. i find myself searching for old selves while speeding forward through the plate glass of maturing cells .

E naquele preciso ponto ela ascendeu ao patamar da sua libertação adulterada e largou, num qualquer beco da sua erótica perseguição batailliana, a chave que rompia as veias dos seus pulsos, subindo de mão dadas consigo mesma.

Ela finalmente encontrou o seu ‘eu. Ela finalmente reconheceu o seu ‘eu’.

Foram ainda avistadas várias encruzilhadas por onde ela caminhava contudo nada mais importava agora, porque agora ela revisitou o seu ‘eu’ e ela obteve a consagração divina.

A da existência.’


. but you know, no matter where we are . we're always touching by underground wires .


[ . muitas desculpas pelo atraso do post . ]