janeiro 30, 2006

afinal...

No inicio era apenas uma utopia doce baseada num cheiro fugaz, nauseante ilusionismo exasperante. Eu corria insistentemente entre essas amarras, agarrando.me aquela relação instável, a minha criação de um terreno desconfortável, vibrante de pulsões para que a cada momento eu sentisse viver algo para o qual eu estava destinada. Mas afinal...
Sabia o poço onde escorregava mas mesmo assim não me equilibrava no seu limiar, gritava ajuda mas poucas eram aquelas que me ouviam, confiava demasiado nos meus troços inveterados, a confiança por vezes desvanecia-se como uma condensação irreversível e eu nao dei conta e afinal....
As identificações era mais que muitas e a sensação do cabelo desgrenhado enquanto subia aquelas rochas, a roupa molhada agarrada ao corpo, o frio que me subia impiedosamente. Não precisava contudo daquele outro lado do dispensável, podia ser mais perfeito, não foi. E eu agia inconscientemente, cruelmente para quem sempre me mereceu. E os meus traços turbulentos não se condescendiam e continuei atirando-me sem hesitar para o fundo. Afinal...
Prometia a mim mesma o que desejava, e acreditei, baixando-me aos seus desígnios, pus de parte a minha outra face, e cedi. Aguardei como uma mare mansa fomentada por ondas etéreas, ondas que numa noite se concentraram no meu desejo promíscuo, infame, inocente, contraditório...Por momentos parei e senti.me a negar. Então surgiu em mim uma faixa divisória entre os meus maiores medos e o meu eu mais intrínseco, essa volatilidade e força oculta numa carapaça impenetrável....Afinal....
Explodi e lanceim num ponto decisivo. Obti resposta. Continuei mas não evitava as sensações catastróficas de identificação, a sede que nunca fora saciada, a frustração advinda que me escureceu e eu lutei contra mim propria e eu lutei contra a vontade mas ela mesmo vingou-se de mim e conduzium a planície mais longínqua do absoluto...fim....


era eu a convencer-te que gostas de mim...
tu a convenceres-te que não é bem assim...
era eu a mostrar-te o meu lado mais puro
tu a argumentares os teus inevitáveis...
eras tu a dançares em pleno dia
e eu encostado como quem não vê...
eras tu a falar pra esconder a saudade
e eu a esconder do que não se dizia....


afinal....quebramos os dois....afinal....quebramos os dois...

desviando os olhos por sentir a verdade
juravas a certeza da mentira
mas sem queimar demais, sem querer extinguir o que ja se sabia
eu fugia do toque como do cheiro
por saber que era o fim da roupa vestida
que inventara no meio do escuro onde estava
por ver o desespero na cor que trazias....

afinal....quebramos os dois...afinal....quebramos os dois...afinal...quebramos os dois....
afinal....quebramos os dois...


era eu a despir-te do que era pequeno
tu a puxares-me pra um lado mais perto
onde se contam estorias que nos atam
ao silêncio dos labios que nos matam


eras tu a ficar por nao saberes partir e eu a rezar para que desaparecesses
era eu a rezar para que ficasses, tu a ficares enquanto saías
não nos tocamos enquanto saías
não nos tocamos enquanto saimos
não nos tocamos e vamos fugindo porque quebramos como crianças........afinal....

quebramos os dois afinal....quebramos os dois.....afinal....quebramos os dois...

é quase pecado o que se deixa...é quase pecado o que se ignora....

E como quem não vê guiava.me pelas brisas ligeiras, a sua posição era condescendente, criei perspectivas em vácuos incertos e derramei.me no beco reprimido. Porquê? Acabei por me indagar correntemente porém algo me impedia de perguntar e porquê esconder o fantasma da incerteza, a curiosidade mórbida em perceber o como e o porquê, em perceber o que tinha crescido até atingir um máximo, como ele surgiu e como caiu a pique. Tal como o véu do desequilíbrio, o ciume doentio, a perversão que cresceu em mim, o tédio e o suor inédito, dores perdidas e nunca alcançadas, criação de um centro de decisão evasiva, eu avançava e retrocedia....afinal....
Afinal deparo.me com essa fenda promíscua e caio sem para-quedas, sem conversas amistosas em que nada foi cumprido, em que o afastamento em nada restabelecia a paz de outrora, em que o temor me suplantou na minha dimensão, restando apenas o ódio. Sim esse mesmo que me evocou a querer destruir a minha propria essência, a repugnância pelo descontrole ténue do quotidiano, porque ordem eu teria que suportar? Afinal tudo o que um dia sentira caía agora prostrado aos meus pés, esse algo recoberto de nojo e horror.
Afinal não soube desde sempre preponderar o que queria e o que sou. Apesar de tantas auto-acusações. E gritava calada, fugia parando, e tu saias ficando e eu caía estabilizando.

mas afinal...

Toranja, "quebramos os dois", letra entre os meus textos, que antes de ser tornada "single" e toda a gente fique histerica a dizer que é linda, é minha.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sempre pensei que desafinasses mais...gostámos todos até ao infinito!
Aquando das tuas intercalares do técnico passa por cá...és e serás sempre bem-vinda! Apesar de "chorares" e guaguejares como tu tão bem sabes...(risos), uma energia assim tão inesgotável contagia-me.
E deixo um convite: pensa na "contéudo irrisório", se estrear será em março, tens tempo. Penso.
Quanto ao texto, encontrei maneira de comentar sem falar muito, devo confessar que apesar de adorar o que escreves, este não me deixou bem-disposto...
beijos V

luciamonizfasblog disse...

A identificação de uma pessoa é sempre dificil, é dá sempre a sensação que nem a nós nos conhecemos, quanto mais os outros é interessante ver isso. Na vida às vezes somos tudo, outras vezes não somos nada, por vezes deixamos levar pela a imaginação, e depois ficamos desiludidos. Por isoo continua a acreditar...