sempre tão longe e tão perto

Desvairadamente à procura do que vestir, calçar, tentando saltar por cima de “tudo” que replete o meu quarto ( e que eu inconscientemente “atiro” sem pensar tal como as ideias que surgem espontaneamente a toda a hora), fui cronometrando os segundos para a hora “eleita” de sair de casa e me dirigir para a “santa instituição” ao mesmo tempo que ligava o rádio e de repente ouvi:

e agora dizm se ja decidiste....tempo voa, tua imagem ainda persiste.... ainda sinto a nossa chuva mágica a cair..

tens o tempo de um cigarro se ainda quiseres partir...

A voz não me era estranha. A melodia também não. A musica era nova sim mas era como se já a conhecesse ou se já não esperasse outra coisa da Lúcia. Mas qualquer coisa me incitava a querer ouvir again e sentir que era “minha”. Identificável com muita boa gente mas era para mim. Sei lá. Lateralmente era um sentido de orientação meio distorcido e uma visão aterradora do que queria e não tenho. Acreditar em plenos caminhos simbióticos desvanecidos em impotentes traços de personalidade. E saber que nada era como devia ser.

é como andar no deserto....sempre tão longe e tão perto... olha à minha volta o mundo é tão incerto....

Tão perto de conseguir tudo tão longe de estar como quero. Intensidade emocional já a viveram? Torna-se fácil controlar um vulcão latente prestes a explodir? Erupções necessárias mas evitáveis. Até quando? Falar do que se vive, do que se apreende e nos consome, chegar mesmo ao cúmulo de expor, é complicado mas mais complicado é o domínio dessas ideias.

quero te dizer....que não vai dar...quero só...saber...se vais ou queres ficar...ficar...

O que dita as atitudes de uma pessoa? Qual o meio de encontrármos a solução para os nossos “problemas” continuando a sermos nós próprios? Como é possível dissociar a realidade da ilusão? Porque existem “sentimentos”, sensações, dúvidas, utopias, meras vontades, desejos, ideais, abstracções invencíveis? A sério é quase impossível lutar para não sentir. O não sentir dada coisa não se procede facilmente. Não ha culpas mas existem constatações. Ou não é tao simples quanto isso? Mudanças inaceitáveis e revoltantes. A revolta toma conta muitas vezes, obstruindo-nos o caminho e conduzindo-nos a levar a cabo acções que não queríamos mas existe sempre o outro lado da moeda, muitas vezes também teriamos optado por fazer dada coisa se tivessemos tido aquela impulsão.

eu sei que não vou partir sozinha.....sinto o vento, sinto a estrada....sinto o fim da linha....

tudo passa, voa como folhas de jornal...meia volta... pára como um carro no sinal

Concebem uma dualidade equilibrada entre o que desejam e o que têm? Existe uma diferença quase sempre abismal e nada podemos fazer contra isso. Cada um de nós deve aprender a viver com o que pode ter e está ao seu alcance e ha coisas que não podemos de todo mudar. Não temos direitos sobre ninguém e até que ponto conseguimos racionalizar essa questão e não deixarmos de violar o que quer que seja, até as nossas defesas?

é como andar no deserto....sempre tão longe e tão perto... olha à tua volta o mundo é tão incerto....

E estamos sempre continuamente a adaptar-nos e a moldármos para não criar conflitos, para viver em paz, para procurar equilibrios inacessíveis, uma batalha absurda porque a barreira criada nos impede de realizar os mais profundos desejos. Lutamos entre o que sentimos e o que vemos, o que nos inspira e nos destroi, o que nos põe em duvida.. Lutamos para nada porque ao renunciármos estamos cada mais perto de falhar e cada vez mais longe de sermos quem somos.

quero te...dizer que não vai dar...quero só saber...se vais ou queres ficar....ficar....

quero te..dizer que não vai dar...quero só..saber se vais ou queres ficar...se vais ou queres ficar.....

"chuva" da Lucia Moniz...simplesmente linda, delirante, se amava a "sou como a noite" dela esta entao..nao ha palavras...obrigada a quem escreveu e a ela tambem...=)

pus um link novo com o novo site dela, podem ouvir a "chuva" em discografia...se quiserem...