janeiro 31, 2010

de battre mon coeur s'est arrêté .

Dói-me o coração. Tal como ele disse, ‘doi-me o coração’, mas eu respondi ‘o coração não dói’. Dói-me a dor da soturnidade a pulsar dentro de mim. Tic tac tic tac. Como um relógio de corda acertado de hora em hora.

Uma. Duas. Três. Quatro. Cinco. Seis.

Invariavelmente pára. Ele interrompe-se fugazmente nos meus meandros carnais. Por vezes acordo num esgar instantâneo, outras vezes apercebo-me que é como se ele tivesse parado dentro de mim. A respiração, a transformação, o coração. Aí não me dói. Aí pára. Assemelha-se a uma passadeira rolante estagnada. Como se cessasse bruscamente o movimento enquanto tivesse a andar nela confiante do meu destino. E fico parada. Não se sente nada, é como se a lava que percorre o meu corpo evaporasse. Fragmentando-se numa massa gasosa, preenchendo os meus compartimentos desgastados. É como se inspirar e expirar se confundissem e fundissem num só movimento. E eu sentisse a morte em mim. Muito mais do que acordar afoita desenhando quadrados no chão. Fugindo deles, evitando quebrar com a sua queda. É como se aquele espaço vazio no meio deles não fosse a minha única salvação.

Sinto uma paragem cardíaca quando acordo .

Olho para ela. Penso nela. Revejo-me nela. Nos seus grandes olhos azuis. Não os meus, os dela. No seu entrelaçar de mente e corpo. É como se quando estive deitada naquele sofá, e me contorcesse suplicante como ela, estivesse não mais que a comunicar etereamente, no ar, no olhar. Como se só pudesse ser assim. Já nem se trata de conseguir ser. Só pudesse ser assim. E depois recolho-me nela, escondo-me atrás da sua imagem em mim, ela é o meu escudo. É como se eu a conseguisse encarnar e ela deixasse de ser uma mera personagem e fosse eu.

we will touch the highest point of our communal nature . [ all vanities and pretentions will be set aside ]É como se eu também crescesse voluptuosa como a Couleurs dos M83. Ela cresce, invade, ela torna-se autónoma. Todavia eu não consigo. Fico ali no limiar. A subir, subir, por entres cordas débeis, escarpadas, brilhantes. Mas nunca alcanço o topo. O topo. O topo.

So why don’t you lick my soul? Get rid of my ghost .

Exorcisar. Escrever. Libertar. É isso que eu faço. Dói-me o coração como se tivesse equilibrada numa fileira de bonecos numa feira popular e miúdos de 13 anos andassem a fazer tiro ao alvo. Um deles acerta. E eu caio.

Sinto uma dor profunda no lado esquerdo da minha luta quando desperto .

Imagens difusas. Entregas que não sucedem. Chansons d’amour que não me envolvem mas um minuto. Ma memoire sale. Intitula-se assim. A cena? Perfeita. Contudo é a melodia, é a força que se exponencia ruidosamente como se eleva em mim a imperfeição de sintonizar o impossível de equilibrar.

A quoi bon les sanglots inonder les coussins?

E eu fico ali, lutando contra o nada, observando o tudo. ‘what do you want?’, perguntam-lhe. Os seus olhos azuis respondem. Será que os meus olhos castanhos igualmente se manifestam? Respostas. Respostas. Perguntas. Perguntas. Pergunta-me. Talvez eu te responda. Ou talvez ela te responda por mim.


Lave
Ma mémoire sale dans son fleuve de boue
Du bout de ta langue nettoie moi partout
Et ne laisse pas la moindre trace
De tout ce qui me lie et qui me lasse
Hélas
Chasse
Traque-la en moi, ce n'est qu'en moi qu'elle vit
Et lorsque tu la tiendras au bout de ton fusil
N'écoute pas si elle t'implore
Tu sais qu'elle doit mourir d'une deuxième mort
Alors...tue-la...encore
Pleure
Je l'ai fait avant toi et ça ne sert à rien
A quoi bon les sanglots, inonder les coussins
J'ai essayé, j'ai essayé
Mais j'ai le coeur sec et les yeux gonflés
Mais j'ai le coeur sec et les yeux gonflés
Alors brêle
Brêle quand tu t'enlises dans mon grand lit de glace
Mon lit comme une banquise qui fond quand tu m'enlaces
Plus rien n'est triste, plus rien n'est grave
Si j'ai ton corps comme un torrent de lave

e é como se estes 54 segundos fossem dos mais derradeiros na história da música. como se este intervalo 3:19-4:13, valesse o que valesse.

Ma mémoire sale dans son fleuve de boue
Lave
Lave
Ma mémoire sa dans son fleuve de boue
Lave Em cada pequeno patamar em que ela se distende. Salta. Eclode. Cresce.
Como os singelos patamares que derrubo contigo. Longe de ti. Lado a lado. Numa visão lateral. E porquê? Não sei. Não sei.