março 16, 2007

félicitation

‘Se não fosse Isabelle não teria feito este filme. É a maior actriz da Europa e se calhar do mundo. O filme resolverá todas as dúvidas que alguém tiver em relação a isso.’. Michael Haneke.Huppert é isso mesmo. É poder, é força, é instinto básico e visceral. Huppert é visceral aparte de qualquer instinto superior. De qualquer intempestiva necessidade eclética. Ela contempla tudo o que pode ser e não ser no mesmo papel, na mesma pele que encarna totalmente como se da própria vida se tratasse. Ela vive cada personagem como se fosse a última.

"Isabelle Huppert tem o papel da sua vida e confirma ser uma das melhores (se não a melhor) actrizes da actualidade."

"Mas o rosto que fica não estava em competição: Isabelle Huppert em "Deux", de Werner Schroeter (Quinzena dos Realizadores). É um filme com "e para" Isabelle, que interpreta duas gémeas, separadas às nascença (filhas de Bulle Ogier), em périplo de drama, sexo e ópera. As obsessões de Schroeter são as mesmas (incluindo a escatologia), mas quem se deixar levar pela colagem caótica de planos emotivos, há-de receber um plano que parece redimir tudo. Há anarquia infantil à solta em "Deux". E Huppert é rainha nesse jardim de infãncia."

‘A Pianista’ de Haneke trouxe-lhe o rótulo de melhor actriz contemporânea/francesa, o que for. Fala-se de algo diferente que mesmo pouca gente consegue compreender. Fala-se de pequenos pedaços encaixados com uma ordem não-linear na nossa sub-consciência adormecida. Ela permite-nos ascender a ela e não ter medo das consequências. Ela acalma. Afaga a epopeia existencialista que nos consome o espirito muitas vezes, desconvexo. Com o simples olhar, do alto da sua imponente frieza, ela concede-nos o que procuramos muitas vezes e não encontramos. Um sensibilização pelos actos incongruentes de um interior em chamas exorcisado por comportamentos anacrónicos, uma transfiguração da espiritualidade versus exaltação carnal desenrolada por Bataille, duas gemeas em forma e dimensão promíscua, uma ironização sarcastica, uma aventura no poço rotundo que é a democratização dos sentimentos, enfim...Enquanto muitos a subestimam existem ainda muitos a quem ela lhes sussurra ao ouvido...."O grande destaque vai, sem dúvida, para o extraordinário desempenho de Isabelle Huppert, naquela que é uma das personagens mais marcantes de todo o cinema recente. Só ela é todo um programa psicopatológico, sociológico e de muitos outros temas. Só ela, ou elas (actriz e personagem) já justifica(m) um lugar na história desta arte."

"Isabelle Hupert está magnifíca. A melhor actriz da actualidade e um desempenho esplêndido"

"Isabelle Huppert tem aqui talvez a sua melhor interpretação da sua carreria, a sublimação de todos os ensinamentos que tem recebido, muito em particular de Chabrol. Um só olhar, ou até um simples andar, define imediatamente a personagem que interpreta, e domina toda e qualquer cena do filme. Não precisa de gestos espalhafatosos nem de esgares. Numa palavra: portentosa!"

"Este filme devia se chamar 7 mulheres e um MULHERÃO. Isabelle Huppert és uma Deusa. Após este meu grito de admiração posso dizer que a película "8 mulheres" é uma obra simples, eficaz e bastante divertida (..) No meio de todas as actrizes da película, uma ofuscava no acto de representar qualquer outra. Isabelle Huppert, a ex-masoquista pianista, a fazer uma comédia. É impressionante a polivalência desta actriz e quanto a mim é sem dúvida uma das melhores (para mim é mesmo a melhor) actrizes da actualidade. Cada vez que tinha uma fala..enfim...onde estão as outras actrizes?. Cada cena, cada "roubo". Um must see. Só por sua causa vale a pena ver a película, ou teatro filmado, como lhe queiram chamar."

"Ou: como filmar o que de mais contraditório, secreto e inconfessável existe dentro do ser humano, sem que isso se transforme num pretexto para uma quermesse de «porno-chic», num compêndio visual de fantasias obscenas ou num festival de voyeurismo. Ou: como fazer um filme de terror realista e «clínico» só para adultos, onde Bach e Mozart coabitam com o sexo duro e o sadomasoquismo. Ou: está inteiramente certo quem diz que Isabelle Huppert é uma das maiores actrizes do mundo. Desde já, e sem a menor hesitação, «A Pianista» é um dos acontecimentos cinematográficos do início do século e um dos melhores filmes do ano.""Uma proeza nos limites do próprio cinema. Ou como se filma o impulso amoroso nas suas gloriosas ambivalências — os actores são um prodígio e Isabelle Huppert surge, também ela, nas fronteiras mais radicais do próprio acto de representar."

"O que Isabelle Huppert faz em "La Pianiste" - e não se fala só das "cenas" de figuração "arriscada" - poucas actrizes seriam capazes de o fazer. Como ela diz, este tipo de argumento, este tipo de desafio, ousar os limites do pudor, "não se deve aceitar de ânimo leve, e ainda bem que é assim". No caso dela, claro, houve Haneke; mas o caso dela é particular: o sacrifício e o prazer andam de mãos dadas, numa espécie de procura da perda de si própria. (...)O registo de Huppert nos filmes é habitualmente introspectivo porque, ela diz, "o cinema quer revelar o invisível, uma câmara é uma lupa, vem tirar-nos coisas que nós não sabemos que cá estão, por isso não vale a pena estarmos a reforçar o processo com mais coisas"."

"E são os actores a pagarem o preço figurativo, também ele cruel, de tal ousadia: Louis Garrel (um dos «Sonhadores», de Bertolucci), através de uma comovente vulnerabilidade; Isabelle Huppert, habitada por uma perdição carnal e ao mesmo tempo fria como uma estátua, apenas uma das maiores actrizes contemporâneas."

"Perante a Hélène de MINHA MÃE, antecipa-se que se irá juntar a um percurso reconhecível de personagens indomáveis, sacrificiais, interpretadas por Isabelle Huppert. Não é por veleidade, mas a frase inaugural de Bataille em "O Erotismo" - "a aprovação da vida na morte" – parece feita para elas. E Já se pode falar do "efeito ”A Pianista”... Mas é verdade que não vemos outra actriz no lugar dela."

"Não resistimos a citar-lhe uma frase do livro: "Uma verdadeira grande actriz nunca tem medo de papéis de monstros".
Huppert; "Ela não tem medo porque nunca os vê como monstros. Se os visse, teria medo como toda a gente. Em todo o caso, uma actriz tenta aprisionar o monstro. Ou mostrar que o monstro pode fazer parte de nós."
E assim comemora-se mais um ano de vida da melhor actriz do mundo. Huppert é luz. Huppert dissocia o indissociável e integra o já podre desintegrado chão miserável em que continuamente nos abatemos numa simples aparição cinematográfica. Sacrificio e prazer. Não há prazer sem culpa. O prazer não tem culpa. Necessariamente nada se coaduna. E porque haveria de ser coadunar? Trangressão e proibição. Eis a questão.

16 de Março de 1953

.Pequenos trechos/criticas/exposições intercaladas por observações minhas =)