fevereiro 26, 2007

dentro de mim

E é extremamente curioso, chega a ser fantasmagoricamente surpreendente, que as correntes transportadoras de bom-senso e amadurecimento intelectual confluam no mesmo cais. Chega a ser terrivelmente positivo que tudo se circunde de uma premissa estável, se bem que tortuosa no sentido lato do ser existencial, e tudo se perpetue de uma forma imaginariamente permissiva de um comportamento alegórico montado em estandartes corrompidos por gritos ecléticos.
Ela, a outra parte, aquela que se divide e multiplica por dois moldes distintos e individuais na sua certeza absoluta. Ela aquela que olha a sua semelhante com fervor e respeito, mas que timidamente a arrasta por caminhos incertos. Ela que destoa num conjunto de cores ambíguas que se confundem num espaço ilimitado pelo circuito fechado que se criou no quotidiano. Elas as duas de maos dadas por trilhas inimaginárias. Vão contentes. Vao cientes da realidade. Vao calmamente. Vao contornando as dimensões atléticas das circunstâncias passageiras, elas vão deslizando suavemente por vales de incertezas adulteradas acreditando serenamente na pureza de um estar alimentado com os destroços do pacífico e inevitável confiar.

'Acreditas? Deixa-me escorregar lentamente....parece que sinto o frio dessas paredes molhadas....estão de azul? O que isso importa? Quero sentir o odor que vem delas e com elas absorver o desgaste dos membros agastados. Quero atingir o patamar de esgotamento são, quero não aguentar as minhas pernas por mais que 10 segundos, quero arrastar-me e ver arrastar o meu corpo por entre compartimentos hermeticamente fechados. Desejo a plenitude de uma esgotamento atroz que me impeça sequer de saborear o gosto vazio da água, que me encurrale o espírito com placas oblíquas obliterando um cheiro a madeira opaco. Quero montar persistentemente várias cores e vários pontos de viragem, quero esquecer que o segundo que passa leva consigo o meu olhar, pulsar, enraivecer, respirar, quero deitar-me numa planície coberta de mil descobertas renegadas, e aí inspirar o ar saturado que transborda do meu corpo. Quero imaginar o que imagino quando reflicto sobre as minhas próprias pulsões e aí constatar que expiro vilmente o teu doce e delineado corpo, essa fonte de excitação desleal e excedida por terrenos pantanosos de ideais irrealisticos. Gosto de supor apenas por supor, de me deixar evadir em lençois laranja numa cor ténue de desejos apocalípticos, esses que corrompem esta paixão avassaladora, mantida e ignorada por milhares de milisegundos passados e albergados por essa sensação continua e comtemplativa da minha existência normalizada. Por mim a descer e a subir andares desnivelados suscitando a catarse desta génese primordial. Ao ir.'

E ai nesse precipício da vontade, elas coexistem uma com a outra. Estão dentro de mim e entoam uma para a outra:
é pena quase não poder ficar
és quente quando a luz te traz
quase te vi amor , quase nasci sem ti, quase morri...

dentro de mim
ficas dentro de mim
por dentro de mim
estás dentro de mim

silêncio.lua.casa.chão
és sitio onde as mãos se dão
quase larguei a dor, quase perdi, quase morri

dentro de mim
estás dentro de mim
por dentro de mim
ficas dentro de mim

sempre sou mais um homem
Mais humano
Mais um fraco..
sempre..
sou mais um braço
mais um corpo
mais um grito
sempre..

dança em mim!
mundo, vida e fim!
dorme aqui
dentro de mim..

é pena quase não poder ficar
no sítio onde as mãos se dão
quase fugi amor
quase não vi
vamos embora daqui
para dentro de mim...

e sim é como ela tal e qual. Porque dá vontade de a abraçar quando ela interpreta aquele papel incutido, e dizer-lhe 'sim eu sei, sim eu vou, sim eu estou, sim eu sou'. Ela comove. Comove em qualquer papel que faz, comove em qualquer olhar que deita, ela incita em mim naquele singelo instante de assistência televisiva uma emoção comparada apenas aos melhores e mais exaustivos actores. Ela transpira na pele a emoção de um 'o problema é ter emoções a mais e não conseguir geri-las'. Dá vontade de a agarrar e levar para dentro de mim.

Tiago Bettencourt/ Dalila Carmo (oh yeah versão indubitavelmente melhor)

Música de filme