maio 05, 2007

where soul meets body

[i want to live where soul meets body]

[1:27] até [1:43]

Despoletou. Assim de forma abrupta, uma linha equatorial, que divide linearmente os dois pontos equidistantes que formam um plano metafórico entre duas consciências sobrepostas.
Ela assim o pressentiu, seguiu por ela, fechando círculos à sua passagem. Parou e incendiou um pequeno recipiente de volume incalculável, volume esse que continha uvas misturadas com framboesas. Sentiu que no percurso que percorria nada mais a suplantava naquela dimensão.
I'm so glad I've found this
I'm so glad I did
Era azul e amarelo que deslizavam numa corrente neo-post-punk. Fechou-se no quarto verde e sentou-se ao redor de uma mesa com um enorme jarro cheio de acácias, lírios gigantes que enchiam o compartimento com um aroma inebriante. Podia ser até exagerado mas aquele exagero consumia-o num vasto périplo de sinfonias a médio-som. Ouvia-se Debussy, mais para ali adiante, um Haendel. Sentado envergava um Maurier. Lia-o incessantemente como se aquela melodia de fundo o catapultasse num trém que o conduziria ao extase da sua inteligência.
People are fragile things, you should know by now
Be careful what you put them through
You'll speak when you're spoken to
Imóvel, sentada, fumando ao altar. Podia ser sim. Deitada, carregando o fardo dos nervos a descerem e a subirem pelo corpo todo. Provavelmente se se concentrasse um instante alcançava o aroma a hortênsias azuis. Conseguia pegar naquelas folhas mais uns minutos, adormecia sorrateiramente, no vão do seu projecto.
We are the earth intruders, Muddy with twigs and branches, Turmoil! Carnage!

Que nada tenha de vão para um sem número de audiências adormecidas.
With one hand you calm me
With one hand I'm still
Deliciosamente ouvi-o de uma ponta à outra, parece ser uma mistura de um Vespertine e de uma outra mistura de Debut e Telegram, assim umas faixas fashion na eclética comparceria de sons e umas vozes mais elevadas ao expoente como Unison e Undo. Curioso e positivo.

Estava cansada. Penso que ainda se mantém. Aproximei-me dela, estava sentada ao balcão. Tive sorte. Os olhos sempre muito vivos, um sorriso agradável, a denúncia da sua loucura existencial sempre presente. Contou-me de si. De repente senti qualquer coisa como um riso, uma vontade súbita de rir, parei a tempo. Continuámos. Observei-a nos gestos, nas atitudes, nas falas, nas posições. Rimos as duas. A certeza que daquele material era que eu também era feita notabilizou-se na minha mente. Senti-me compreendida. Pouco desabafei porque agora, agora que ela enveredou por um caminho que tão pouco esperei para ela, ela nunca me compreenderia. Avançámos em direcções opostas. Concluímos que nunca fomos tão felizes quanto naquela altura.

Here's my version of it, eternal whirlwind

Era fantastica a sintonia que se estabelecia com aquele som. Era sobrenatural que tudo se encantasse e desenvolvesse de uma forma nunca vista. Fazia tudo ter uma onda de sentido, uma base estável em que ao assentar logicamente não nos feríamos. Por mais exaustivo que seja o processo ele sempre traz qualquer coisa de indissociável da corrente natural, dos humores, das disponibilidades, até das circunstâncias da vida.

Intocável.

It breaks when you don't force it
It breaks when you don't try