novembro 02, 2006

o meu lado errado

Uma inexorável viagem até ao infinito sentido inconsciente que me percorre as veias intemporalmente. Um frio ilimitado de abnegação de equilíbrio, vulgo dispensável visão panorâmica de uma realidade deformada por estilhaços recônditos, pedaços quebrados de ideias invariavelmente sucumbidas a um acreditar longínquo. Necessidade primária de libertação, horas passadas, horas sob horas, veiculadas em desertos de ideais esquecidos. Lutas abandonadas ou estagnadas à espera do primeiro impulso que urge em aparecer. Falácias ditas por vultos que deserdam o escorrer de cada dia. Cada dia suportado pelos membros que manifesto em moldes standartizados pelos passeios de uma avenida larga mas desprovida de estabilidade. Sufoco gritante, nuvens cinzentas, fumos a emergir numa nuvem quente, fugaz mas suficiente para queimar, prolongar a existência num compartimento hermeticamente fechado onde se escondem os recalcamentos, as frustrações de uma realidade negada e mandatoriamente renegada para o ficcional impossível. Um pulsar de atitudes retorcidas. Contornos evasivos de palavras lançadas num ambiente de vácuo racional. Conter. O que bate, o que enraivece, o que distorce. O inevitável, o básico, o inexplicável.
Uma passagem, um retroceder temporal demente, recheado de certezas dúbias, vivências dualistas de uma personalidade exasperante no limiar do auto-conhecimento, do prioritário, do inacessível. Um pestanejar não seguro, e um minuto depois tudo muda. O campo visual alberga outro panorama metafísico, disfuncional no termo consequente da questão, um sonho repartido por horas, uma incompreensão nata do exterior, a desilusão com qualquer ser que preenche o enorme poço de repulsa que é o círculo obtuso da humanidade. Os outros, o quarto circundado de espaços inexistentes de simplicidade mas antes confusão, passageira e sinistra. Eu perdida num horizonte planar de insensatez. Uma madrugada-uma passagem-um numero-30-um dia-uma hora-um minuto-um repassar. Passas por cima, passam-te por cima sem quereres...sem dó nem fundo de maneio ultrapassam-te vorazmente. Sentes o apoio e a identificação de alguns, prossegues caminho com ódios profanos de nenhuns, olhas de soslaio para uma vida imensa adiada por um segundo. Por um ano, um mês, um suspiro.
Céu cinzento, vento perene a ameaçar eclodir sobre a minha cabeça, essa que me pesa impreterivelmente e atrozmente me sacode a poeira narcisista que me constrói a identidade sufocada. Latejante, agonia, vontade de fugir do círculo insípido que se formou à minha volta.
Sentir a tua presença junto a mim, o teu cheiro entranhar-se na minha respiração ofegante pelo teu corpo, por cada partícula proibida do teu ser, e isso fomentar a minha raiva contida pelo nunca, palavra demoníaca que assola o desejo sarcástico de emoção e me transporta numa viagem sem rumo para o terreno do quotidiano, insano sim, em que me olhas com esse olhar doce e não compreendes que nem metade da totalidade de um terço do que me completa se reduziu a cinzas. E visto aquela camisa branca, deixo passar a necessidade ofuscante de um local coabitado pela minha loucura, pelo meu exigente devaneio dissipado em fumo maçico, pelo som de uma voz perfeita e melodiosa, pela água deixada em copos meio desprovidos de orgulho próprio, vontade imensa de me evadir, sentar sobre os lençois quentes, amarelos, finos, escorregar na linha recta de benzodiazepinas factuais, e deixar-me ir. Talvez assimilar o momento, o que chega e atordoa por uns breves meses este ceu azul que passa a tornar o instante em que me deito e adormeço num sufoco etediante de ansiedade.
É conseguir comer e rejeitar por sentir esta permanente sensação de medo e falta. Falta de algo que me densagrandece, me atira a meio caminho para o chão, deixando-me bater de frente nele, sozinha. Só. Só estas tu, eu, eles. Fontes, bases descambam dia após dia. Planeias mentalmente o que queres ser. És aquilo que demonstras ser. E nesse momento viras a página a quem não é aquilo que mostra ser. E tu? Prossegues sempre. Sempre, mas cada vez mais sozinha. Descobres que afinal nada é como é. Odeias os impulsos coerentes de quem sempre se guiou por fachadas mansas, és admitida como insana perante uma realidade democraticamente esmagadora. E entao?
Esse caminho fazes-lo sozinha. Esse percurso sempre palmilhado, traça-lo no vínculo sereno da submissão. Da admissão a um vasto conjunto de verdades inconfessadas, no vento que bate no estore, da cor do “adore”, da lembrança de percorrer aquela avenida de maos dadas com elas, do alcool na minha cara, de amparar o meu desespero na atitude de me lançar mais uma vez por mim própria num espaço ambíguo e mantido por cores ecléticas que nos mantêm vivos. De subir a rua sozinha. De chegar e ouvir a voz dele. Rebolar por entre memorias esquecidas de um dia, uma noite que cheirava a halloween, ao meu cheiro que agora se confunde com a minha fome pelo teu corpo, por qualquer solução que matasse o deserto que nunca conhecerá o mar. Por mim.


largaram-me a mil metros do chão...largaram-me porque me agarrei...
numa alucinação de vida que me enchia o coração
e que agora vejo perdida...num cair que já não sei...

largaram-me a mil metros do chão...
reparo o sol que se afasta no ar..rasgo caminho onde o vento dormia
adormeço sentidos no meu furacão enquanto o sol anuncia o dia
sinto o meu corpo, desamparado, deslizar...

perdi-te do lado errado do coração...perdi-te do lado errado do coração
mas és tu o meu chão...

enquanto caía a terra rachou
e eu via a queda ainda mais funda...
ao meu lado passava tudo o que passei...
comigo a miragem que nada mudou
o voo rasante que nem começou
o tempo apressado que nem reparei

sinto os meus gestos flutuar devagar
no último segredo antes do ódio

à minha frente um filme de aves sem voz...

quando as ouvi resolvi gostar...!!

quando as senti fiquei a amar =)

ter tentado subir ao cimo de nós


amei-te do lado errado do coração
mas és tu o meu chão...

não sei ao que chamam lados do coração
mas és tu o meu chão...
és tu o meu chão...


sabe tão bem conferir a existência de musicas como esta =)
sabe tao bem ouvir algo mesmo BOM...!

Toranja/ Lados Errados

5 comentários:

Anónimo disse...

Muito belo, este texto de ti.

Rogério Carrola, Incomunidade.

Anónimo disse...

o nosso lado errado obscuro, perdido na debanda do conhecimento, esse que por caminhos sinuosos, se perdia em vão...

ainda sentimos o chão deslizar mesmo por baixo de nós, ainda acreditamos duas ou três vezes no óbvio...

q ainda ouvimos as aves sem voz a cantar, sentimos o odor da dor que passava por entre laços quebrados..

amo-te do lado certo do coração

l u

Anónimo disse...

Extenso sim, gostei muito! Nao foram minutos perdidos à toa...cada vez mais incisiva, resta-nos perceber em que contexto...as vezes sinto que é necessário arrancar-te a verdade antes da escrita, porque depois confundes e fazes-nos perder nesse emaranhado de emoções...mto bom na mesma miuda!
beijos

botinhas disse...

Ensadeceu!
Não é que eu tenha alguma coisa contra o facto de escreveres para ti própria, mas aqui a 'gente' gostava de conseguir perceber alguma coisa... só para variar! ;)

Anónimo disse...

Acabei por ler aqui alguns comentários e não poderia deixar de dizer que o escreveres para ti própria sempre foi uma constante, floreada ou não sempre existiu, ou seja, aqui podemos afirmar que se assiste a um lirismo das emoções, muito bem conseguido com um toque de sensibilidade metafórico sublime...

beijos V.