setembro 08, 2009

Chapter II

Inesperadamente entre risos, personalidades, injustiças, noites, aromas, diferenças e cedências, assomou no horizonte temporal uma descontinuidade. No meu adormecido subconsciente formou-se uma indefinida vontade de ser. De conhecer. De possuir. Ganhou forma e relevo na inconstância do meu desejo. Do meu querer. Do meu consciente.

' . Era como se fosse a personificação do diabo, do ser do mal, porque incutido foi, intrínseco se estabelece, maligno se assimila. Assim ficou a interiorização, a imagem, a verdade. Porque a verdade pode ser verdade a qualquer momento mesmo que se baseie na mentira e nela cresça, crie raízes, se distancie ou se alimente. Dessa forma, ele foi absorvido, pela sua mente, pelo seu eu, por algo que apenas era sem qualquer tipo de interrogação metafísica. Estavam no seu local habitual, onde umas varandas brancas se entrecruzavam com blocos beges, onde escadas faziam ligação a andares todos eles claros, amplos, limpos, aparentemente limpos, muito ofuscantes na sua pureza, virgens. Ela estava ali, e naquele consciente, naquele segundo que passava, ele aproximava-se dela, e ela desligava mais do que ela própria já desligara do mundo, deixando-se conduzir por aquela imagem masculina e somente desejando que ele a consumisse. Porque era a raiz do mal, era a língua do ser das trevas que ela ansiava ardentemente que a percorresse sofregamente, intensamente, lascivamente. Porque a luxúria da sua intempérie batailliana clamava desesperadamente por aquela entrega, entrega essa que nunca sucedeu contudo agora se estabelecia, se vivia, mais do que se imaginava, se perdia, se integrava, se dilacerava em sangue, suor e dor.

Ele acompanhava-a linearmente no seu deleite temporário e nesse recôndito espaço incluso, libertava as hormonas que o destruíam, que deslizavam sobre as suas veias, que escorregavam em espiral por todos os seus interstícios corporais.

I’m not like all the other girls.

I can´t take it like the other girls.

I won’t share it like the other girls.

That you used to know.

E ali ela esvaía-se no seu eu sem pudor nem arrependimento, e ele apenas vertia, expulsava o veneno que o mantinha de pé, e novamente se erguia calmamente sobre si mesmo. O mal tinha-a possuído e ela apenas queria ceder à tentação porque nela podia sobreviver e aprender na emoção, ganhar na razão, perder na tentação .

Quando percorreu o seu compartimento, procurando peças soltas, e tentando aligeirar o espaço e o tempo que lhe restava, conseguia interiorizar limpidamente o quão circunstancial tinha sido a sua vivência nocturna. Porém quando o seu olhar se cruzou com o dele, ali, ela sabia que havia mais.'

Gent. Parte II.

E nessa melodia metafórica, irreal, impossível, nessa mentira quotidiana formava-se um crescente sentimento de equílibrio, de felicidade, de adulteração dessa mesma noção de harmonia. Acreditava-se no amanha apenas porque se vivia. Tolerava-se o exterior, circundavam-se as colinas respeitosamente estagnantes porque sim. Porque aquela paz, aquele viver, eram preenchidos, porque a falta de tempo aí se reencontrava com a ansiedade em catadupa com a curiosidade. Porque o tal mal, essa origem, essa forma humana, adoptava cada vez mais um espaço militarmente estável e apaixonante. Porque era o que se sentia ser do que propriamente o que se sentia por esse inferno. Porque o inferno transmutava-se em paraíso, falso, inconsciente, contudo palpável para a realidade. Porque aquele momento era o momento.

´e por entre pontes, abdicações, criações e ficções, mantinha-se o desconhecido, mantinham-se as indiscrições, as partilhas, as vivências. Continuava-se a respirar a mesma proporção de azoto e oxigénio que saturava o nosso psíquico e que preenchia, esvaziando, a nossa necessidade intelectual, temporal, local. Num espaço que cada vez mais fugia de mim.´