dezembro 10, 2007

i'm so sorry

Ela deitou-se perpendicularmente ao vazio adulterado dele. Naqueles lençóis corrompidos por aquela noite, iluminados por luzes ecléticas, dissonantes num espaço construído a partir dos seus elos carnais, observavam-se serenamente, como se fosse uma mera ilusão de óptica. As suas formas reflectiam num espelho meio enevoado, contudo podia se vislumbrar o contorno das suas silhuetas, as curvas esquecidas dela, o peito amplo dele, a fome renegada dela.
Ela abaixou-se, ficou junto do seu corpo, imóvel. Ele desenhou figuras ao acaso no ar, esperando que elas eclodissem em qualquer coisa de novo. Ela riscou a cinzento por cima das mesmas imagens, a tracejado marcou uma linha recta que disseminou dois pontos equidistantes numa longitudinal crença. Ele acreditou. Pegou num pincel e desenhou o seu corpo, delineou as suas coxas, fitou a pulsação enquanto docemente descia no seu leito, perdia as fronteiras, agarrava-as e deixava-as fugir. Ela ligava um rádio velho que ornamentava uma poltrona suja, riscada pelo passar do tempo, e ouvia.se uma voz brasileira, uma voz quente mas leve, mesmo muito perene, com uma letra assustadoramente real. Os seus cabelos dourados escondiam umas feições sorridentes, mantidas pelo decurso da sua propria ignorância, ela preferia não ver, preferia não acreditar e aí ele apoderou-se dela.

[eu assomava com um longo vestido branco, rodeada pelas luzes das vinte velas que circundavam a cama. Deitei-me, observei. Levantei-me senti-os. Circulei em espiral por aquele antro maldito, tentando assimilar o que dali restava e o que dali me podia suplantar. Eu necessitava de ser suplantada, ultrapassada no meu percurso enfatizado, arborizado pelas mesmas consciências absolutas que me colmatavam os vazios egoístas. Sensacionalmente os espaços deixados em branco pelo meu ego militante, aquele que já não dormia em mim e de mim se tinha afastado precocemente.
Aspergi-lhe o perfume, recuperei-lhe a insanidade, dexei.me conduzir através da minha propria vertigem que ansiava, num depósito de insaciedade metafisica, esse encontro temperamental, essa evasão assente numa premissa promíscua, antes de mais obscena do meu ser. De todos os pequenos pormenores que nervosamente engolia e que demoniacamente se distendiam aos meus pés]Ele reposou sobre ela, deleitou.se com as suas finas curvas, aconchegou as suas pernas entre as dela, percorreu-lhe o lânguido corpo, lambeu-lhe docemente o peito, puxou-o para si, para junto de si. tapou-a em seguida. Deixou-a guiar-se por uma escuridão profana, imperdoável na dissociação inesperada daquele compartimento, uma erva algures deixava-se queimar[eu parei e retrocedi na minha identidade, sentei-me, deixei-me sentir, pousei as maos sobre as minhas pernas e percorri-as serenamente], ele acariciou-a repetida e repetidamente até ela soltar um orgasmo material, fruto apenas do seu toque e da ascensão numa identidade já por ela empacotada em mil caixotes[caixotes esses que abri e respirei o odor que de lá transbordava, como se as debeis faces da minha loucura pudessem envolver a minha auto.contestação]
Os dois uniram-se, uniram-se em uníssono como numa bola de ritmos que balouçava de cada vez que ele perdia o controle sobre a sua orientação. E ela não mais podia fazer que baixar o volume à musica que perspassava e esticar os seus longos cabelos cor de mel num vasto lençol branco.
Eram dois, eram dois perdidos numa hora maldita, compurscada por efeitos cada vez mais longínquos da esfera que nos integrava.

[de fora dela consegui preencher as lacunas deixadas por ela, ela que nunca soube enveredar pelo caminho certo e deitei-me sobre mim sentindo o meu ritmo cardíaco cada vez mais acelerado pela irrealidade daquela transposição metafisica. Era anatomia demais, era sexo sem pudor, eram actos enfatizados e continuamente estilhaçados por comportamentos ambíguos dilacerados em salas ocas, limpas por vácuo e com vácuo instalado.
Era o forte odor a sexo, a entrega corporal, a transcendencia através da carne que se proclamava ali. Era eu a alimentar-me daquele espectaculo como se tudo pudesse agrupar em mil colecções de luxuria libertatária, era o observar daquele pedaço de imagem por ela invertido e por ele recriado. Era apenas o acto pelo acto de afuguentar o espirito enquanto acto de destruir a alma]

[e eu fiquei. Calmamente a espera]

why do you come here when you know it makes things hard for me?

i'm so very sickened. oh, i am so sickened now.